19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Todavia, para Viriato da Cruz, a questão não era tão simples. Numa extensa<br />

carta a Lúcio Lara, referindo-se ao <strong>PCP</strong> sob a forma críptica <strong>de</strong> “subterrâneos”, explica<br />

contumaz:<br />

“(…) a subestimação do direito à auto<strong>de</strong>terminação e à<br />

in<strong>de</strong>pendência do nosso povo, no presente, foi um facto <strong>de</strong>ntro das antigas<br />

teses dos subterrâneos lusos. Essa subestimação baseou-se em<br />

conhecimentos vagos e errados sobre o nosso povo. Esse erro dos lusos<br />

levanta, concretamente um problema <strong>de</strong> princípio: os subterrâneos lusos<br />

não estão sempre à altura <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r avaliar justamente os nossos<br />

problemas, e eles não po<strong>de</strong>m, portanto, arrogar-se, <strong>de</strong> qualquer forma, o<br />

direito <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminar ou ditar caminhos para nós.<br />

Importa que os subterrâneos lusos se convençam, na prática, <strong>de</strong><br />

uma vez por todas, que os <strong>de</strong>stinos do nosso povo só po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>cididos<br />

por este através dos seus mais legítimos representantes. (…). Os<br />

subterrâneos lusos só po<strong>de</strong>m trabalhar connosco como aliados.<br />

(…) essa contribuição não po<strong>de</strong> ser aceite se ela vem intoxicada <strong>de</strong><br />

qualquer sentimento <strong>de</strong> “paternalismo” ou “fraternalismo” 1089 .<br />

E acrescentava, por exemplo, que mesmo do ponto <strong>de</strong> vista técnico não via<br />

vantagem que os manifestos e publicações do Movimento fossem editadas com o<br />

mesmo tipo <strong>de</strong> caracteres tipográficos que a imprensa clan<strong>de</strong>stina do <strong>PCP</strong>.<br />

As divergências <strong>de</strong> Viriato alargavam-se ao papel <strong>de</strong>sempenhado pelo próprio<br />

MAC, em cujas estruturas participava activamente. Criticando o directório instalado em<br />

<strong>Lisboa</strong>, composto por Amílcar Cabral, Agostinho Neto, Lúcio Lara, Eduardo Macedo<br />

dos Santos e Noémia <strong>de</strong> Sousa, entendia que o Movimento “<strong>de</strong>via ser uma força que<br />

aja sobre a realida<strong>de</strong> (…) e não um corpo movido a reboque, pelos acontecimentos”<br />

1090 .<br />

Em Janeiro <strong>de</strong> 1960, uma <strong>de</strong>legação do MAC participa na II Conferência dos<br />

Povos Africanos, em Tunes. Nesta <strong>de</strong>legação, composta entre outros por Lara e Viriato,<br />

as divergências trocadas por carta travam-se agora ao vivo 1091 e, por outro lado, são<br />

confrontados com pressões das outras <strong>de</strong>legações para que cada colónia portuguesa<br />

tivesse uma <strong>de</strong>legação própria, ultrapassando a amálgama que <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista o<br />

Movimento representava.<br />

1089 Carta <strong>de</strong> Viriato da Cruz, 29 <strong>de</strong> Outubro <strong>de</strong> 1959, I<strong>de</strong>m, pp 145-146<br />

1090 Carta <strong>de</strong> Viriato da Cruz, <strong>de</strong> 29 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1959, i<strong>de</strong>m, p. 181<br />

1091 Cf Carlos Pacheco, MPLA, um nascimento polémico, Vega, <strong>Lisboa</strong>, 1997, p. 87, n. 42<br />

428

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!