19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Limita-se assim a explanar longamente a importância da <strong>de</strong>sagregação das<br />

Forças Armadas e a consequente <strong>de</strong>scolagem <strong>de</strong> corpos <strong>de</strong> soldados e <strong>de</strong> oficiais para o<br />

campo da luta pelo <strong>de</strong>rrube do regime, conferindo a esse processo, pelos vistos assim, a<br />

componente <strong>de</strong> violência reconhecida como indispensável.<br />

Se aquela era, como reconhecia, a crise mais profunda que o regime atravessava,<br />

se o fluxo do movimento social e político e a luta dos povos coloniais constituíam dois<br />

focos que impediriam a sua sobrevivência, a sua queda não estava no entanto próxima,<br />

pois como concluía, “Temos ainda diante <strong>de</strong> nós duras provas e sacrifícios, mas a<br />

vitória está assegurada e ao nosso alcance” 1199 .<br />

O levantamento nacional não era para amanhã. Era essa a indicação que se<br />

tornava necessário fornecer aos organismos e aos militantes <strong>de</strong> base, para que a situação<br />

não fugisse <strong>de</strong> controlo e para que a linha política fosse mantida ou reposta longe <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>vaneios radicais e esquerdistas.<br />

Os meses seguintes são <strong>de</strong> esvaziamento <strong>de</strong>ste ímpeto popular. Das iniciativas<br />

em torno do 10 <strong>de</strong> Junho não há notícia e pelo 5 <strong>de</strong> Outubro circunscrevem-se a<br />

comemorações em torno <strong>de</strong> almoços e jantares em localida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> periferia – Aveiro,<br />

Viseu, Castelo Branco, Covilhã, Torres Vedras ou Caldas da Rainha. Em <strong>Lisboa</strong> e no<br />

Porto não há nada, com a polícia a exercer uma forte pressão para que as tradicionais<br />

romagens não se fizessem.<br />

As notícias <strong>de</strong> greves e paralisações pelo 5 <strong>de</strong> Outubro são vagas e imprecisas.<br />

Reportam-se a locais <strong>de</strong> maior influência do partido no sul, como no Couço, Montemor,<br />

Pias, Alpiarça, Vale <strong>de</strong> Vargo 1200 . O facto dos pescadores <strong>de</strong> Matosinhos não terem ido<br />

ao mar nesse dia é interpretado pelo Avante! como acção comemorativa da<br />

efeméri<strong>de</strong> 1201 .<br />

Objectivamente regressava-se ao velho estilo comemorativista, sem condições<br />

para acções <strong>de</strong> rua ou sem se ousar ou querer empreendê-las. Essas ascções teriam sido,<br />

segundo o <strong>PCP</strong>, contidas pela repressão, mas a indignação permanecia, pelo que previa<br />

que não <strong>de</strong>morassem a irromper. Assim, valorizava os almoços e jantares, o lançamento<br />

<strong>de</strong> morteiros que se havia verificado em escassas localida<strong>de</strong>s, interpretando isto como<br />

uma fase <strong>de</strong> recomposição das forças populares.<br />

1199 Entrevista <strong>de</strong> Álvaro Cunhal à Rádio Portugal Livre, O Militante, III série, 117, Junho <strong>de</strong> 1962<br />

1200 Cf. O 5 <strong>de</strong> Outubro foi comemorado em vários pontos do país, Avante!, VI série, 323, Novembro <strong>de</strong> 1962<br />

1201 Cf. O 5 <strong>de</strong> Outubro e a organização <strong>de</strong> novas lutas, Avante!, VI série, 322, Outubro <strong>de</strong> 1962<br />

473

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!