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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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em boa medida era-o, aten<strong>de</strong>ndo às características do próprio centro comunista<br />

internacional que alimentava uma espécie do culto do documento – do relatório, do<br />

informe, do telegrama, da carta, do processo individual.<br />

Porém, o enorme efeito exercido sobre este tipo <strong>de</strong> historiografia diminuiu a<br />

própria crítica da fonte, como se a verda<strong>de</strong> repousasse exclusivamentenos documentos<br />

que finalmente se abriam ao historiador, permitindo passar, segundo esse ponto <strong>de</strong> vista,<br />

<strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> “pré-história” do comunismo à verda<strong>de</strong>ira e irrefutável história.<br />

Deste modo, para muitos dos autores do Livro Negro...., tão po<strong>de</strong>roso fluxo<br />

documental vinha sobretudo confirmar um conjunto <strong>de</strong> juízos e asserções previamente<br />

estabelecidos, nem que para isso fosse necessário ajustar factos e acontecimentos, numa<br />

espécie <strong>de</strong> positivismo recauchutado em que, como já foi sublinhado, “a partir <strong>de</strong> uma<br />

tomada <strong>de</strong> posição i<strong>de</strong>ológica que permite contar <strong>de</strong> antemão com a resposta dada, se<br />

torne <strong>de</strong>snecessário que o investigador coloque verda<strong>de</strong>iras questões” 12 .<br />

É certo que no Livro Negro..., o ensaio <strong>de</strong> Stéphane Courtois suscitaria <strong>de</strong>s<strong>de</strong><br />

logo contestação quanto à or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>za dos “crimes do comunismo” por alguns<br />

dos próprios co-autores da obra, <strong>de</strong>signadamente Nicolas Werth, para quem, além disso,<br />

a comparação entre nazismo e comunismo era <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quada, vincando as diferenças<br />

qualitativas entre ambos os regimes.<br />

Werth, ainda que concordando com “uma profunda similitu<strong>de</strong>, uma espécie <strong>de</strong><br />

núcleo duro dos totalitarismos” comum ao nazismo e ao comunismo, distancia-se no<br />

entanto <strong>de</strong> Courtois, fundamentalmente quanto ao carácter <strong>de</strong>sta comparação, o que tem<br />

implicações, evi<strong>de</strong>ntemente, ao nível quer do plano <strong>de</strong> incidência analítica em que se<br />

coloca quer quanto às próprias ferramentas metodológicas utilizadas. Para Nicolas<br />

Werth há “uma tensão extrema no comunismo, e constante entre os vencidos do regime<br />

e os seus camaradas ‘ortodoxos’. Nunca se viram arrependidos do nazismo, antigos<br />

militantes nazis que criticassem ou tentassem reformar o sistema a partir <strong>de</strong> <strong>de</strong>ntro. O<br />

nazismo, pelo contrário, é a a<strong>de</strong>quação total da doutrina e da realida<strong>de</strong>. O comunismo<br />

é o divórcio entre a doutrina e a realida<strong>de</strong>” 13<br />

Quanto a este aspecto, os argumentos <strong>de</strong> Werth não <strong>de</strong>ixam <strong>de</strong> ser interessantes,<br />

porque <strong>de</strong>scolando, <strong>de</strong>marcando-se, mesmo que parcialmente, da rigi<strong>de</strong>z interpretativa<br />

dominante no Livro Negro…, reconhecendo implicitamente a importância <strong>de</strong> uma<br />

12 Elvira Concheiro Bórquez, Los comunistas <strong>de</strong>l siglo XX como movimiento revolucionário, fuerza <strong>de</strong> estado y corriente<br />

intelectual, in Blazquez Graf, Norma, et.al., Jornadas Anuales <strong>de</strong> Investigación 2004, Mexico CEIICH-UNAM, 2005, p. 175<br />

13 Nicolas Werth, Communisme: L’heure du bilan, in L’Histoire, 217, Janeiro <strong>de</strong> 1988, p. 8<br />

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