19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

posições aparentemente se inserissem na orientação dominante, porventura apenas mais<br />

inflamadas e crispadas.<br />

Traziam no entanto à primeira linha a questão da in<strong>de</strong>pendência i<strong>de</strong>ológica do<br />

partido que nunca fora propriamente um terreno muito cultivado no <strong>PCP</strong>, praticamente<br />

sempre mais preocupado com as questões da unida<strong>de</strong>, do manobrismo táctico.<br />

A questão prendia-se com o problema do chauvinismo e da contaminação da<br />

socieda<strong>de</strong> portuguesa pelas i<strong>de</strong>ias colonialistas. Era pacífico i<strong>de</strong>ntificar a burguesia com<br />

essas i<strong>de</strong>ias, mesmo os sectores da burguesia oposicionista, <strong>de</strong> raiz liberal e extracção<br />

republicana. O combate a essas concepções cabia à classe operária e ao seu partido,<br />

como se a classe operária portuguesa não sofresse também e em escala assinalável <strong>de</strong>ssa<br />

mesma contaminação.<br />

Agarrar isto <strong>de</strong> frente é que se tornava mais difícil. Este artigo <strong>de</strong> Martins<br />

Rodrigues, <strong>de</strong> Maio <strong>de</strong> 1960 não o faz completamente, ainda que o insinue ou intua,<br />

quando afirma que “seria uma ingenuida<strong>de</strong> perigosa supormos que uma tradição<br />

colonial <strong>de</strong> cinco séculos po<strong>de</strong>ria ser apagada dum momento para o outro sem <strong>de</strong>ixar<br />

marcas profundas em amplas camadas da população” 1107 .<br />

Trata-se, no entanto, <strong>de</strong> uma posição que está longe <strong>de</strong> fazer caminho no interior<br />

do partido. Mesmo com a rápida radicalização que os acontecimentos tomam em<br />

Angola logo no início <strong>de</strong> 1961, primeiro com o massacre nos campos <strong>de</strong> algodão da<br />

Baixa do Cassange e, <strong>de</strong>pois, com a tentativa <strong>de</strong> assalto às prisões <strong>de</strong> Luanda, que o<br />

MPLA, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do seu maior ou menor grau <strong>de</strong> envolvimento, subscreverá<br />

como acção que marca o início da luta armada em Angola.<br />

A reacção do <strong>PCP</strong> não é nem tardia nem inesperada: “O Partido Comunista<br />

chama o povo <strong>de</strong> Portugal a levantar-se contra a <strong>guerra</strong> colonial” 1108 . As consignas<br />

que o Avante! inscreve para dar corpo a esse movimento contra a <strong>guerra</strong> consistem na<br />

recusa ao envio <strong>de</strong> mais soldados para Angola, no regresso dos contingentes militares e<br />

no estabelecimento <strong>de</strong> negociações com os movimentos <strong>de</strong> libertação 1109 . Não se po<strong>de</strong><br />

dizer que se tratassem <strong>de</strong> perspectivas muito avançadas, tendo em conta a reiterada<br />

previsibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> eclosão da <strong>guerra</strong> colonial e a complexida<strong>de</strong> <strong>de</strong> aspectos que o<br />

problema envolvia, fosse do ponto <strong>de</strong> vista do papel dos trabalhadores em Portugal<br />

fosse da luta dos povos das colónias.<br />

1107 I<strong>de</strong>m<br />

1108 A luta armada em Angola, Avante!, VI série, 297, 1ª Quinzena <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1961<br />

1109 Cf. O povo <strong>de</strong> Angola inicia a luta armada pela sua in<strong>de</strong>pendência, i<strong>de</strong>m<br />

435

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!