19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

continuei a «volta» e só oito dias <strong>de</strong>pois, quando regressei a casa bastante<br />

traumatizado, pu<strong>de</strong> prestar alguma atenção ao caso” 1499<br />

De qualquer modo, a i<strong>de</strong>ia era que o nível <strong>de</strong> vida do funcionário correspon<strong>de</strong>sse<br />

ou pelo menos se aproximasse do nível médio <strong>de</strong> vida da classe operária, embora<br />

assumindo-se que “terá <strong>de</strong> manter-se abaixo <strong>de</strong>sta no que respeita a necessida<strong>de</strong>s<br />

secundárias (distracções e outras <strong>de</strong>spesas), para além das enormes provações <strong>de</strong><br />

or<strong>de</strong>m afectiva, sentimental, etc (separação da família, insegurança constante, tensão<br />

nervosa), que são inevitáveis nas condições <strong>de</strong> ilegalida<strong>de</strong>” 1500 .<br />

Por outro lado, a funcionalização implicava um sistema distribuição pelas<br />

diferentes regiões do país, proce<strong>de</strong>ndo a transferências <strong>de</strong> quadros <strong>de</strong> umas regiões para<br />

outras, tantas vezes não só distantes como correspon<strong>de</strong>ndo a ambientes sociais e<br />

culturais muito distintos, obrigando a processos <strong>de</strong> adaptação que passavam pela forma<br />

como se exprimiam, como vestiam e até como se alimentavam.<br />

Joaquim Gomes, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> se evadir dos calabouços da PIDE no Porto, em<br />

1954, manteve-se na cida<strong>de</strong>, em instalação alugada na zona das Antas, justificando na<br />

vizinhança ser ele e a sua companheira, Maria da Pieda<strong>de</strong>, oriundos <strong>de</strong> uma região do<br />

interior do país, mas, comprando carapaus, secavam-nos ao sol, escalados, à moda da<br />

Nazaré, como eram apreciados por todo o Oeste, incluindo na Marinha Gran<strong>de</strong>, don<strong>de</strong><br />

eram efectivamente naturais.<br />

Desse modo <strong>de</strong> tratar os carapaus se admirou a vizinha do lado, por coincidência<br />

natural da Nazaré, que, curiosa, quis saber don<strong>de</strong> vinha tal gosto e tal <strong>de</strong>streza em lidar<br />

com o peixe, obrigando a uma engenhosa justificação por tão inesperado comentário<br />

1501 .<br />

Mas tinham <strong>de</strong> encontrar igualmente versões plausíveis que conferissem<br />

naturalida<strong>de</strong> a estilos <strong>de</strong> vida que alternavam estadas prolongadas na instalação com<br />

vários dias fora, no controlo das organizações que lhes estavam <strong>de</strong>stinadas.<br />

Joaquim Campino refere como se instalou nos arredores <strong>de</strong> Vila <strong>Nova</strong> <strong>de</strong><br />

Famalicão: “Depois <strong>de</strong> muito procurar encontrei aquela casa, acabada <strong>de</strong> construir e<br />

vaga. Pareceu-me ter condições. Aluguei-a e <strong>de</strong>i a justificação a<strong>de</strong>quada: «Que era<br />

<strong>de</strong>legado <strong>de</strong> propaganda médica <strong>de</strong> um laboratório <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>; que fora transferido<br />

1499 Jaime Serra, Eles têm o direito <strong>de</strong> saber… , p. 107<br />

1500 José Magro, Cartas da clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>…, p. 26<br />

1501 Cf. Joaquim Gomes, Estórias e emoções <strong>de</strong> uma vida <strong>de</strong> luta, <strong>Lisboa</strong>, Edições Avante!, 2001, pp 80-81<br />

624

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!