19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ferroviários. Os artigos <strong>de</strong> <strong>de</strong>núncia incendiária que Manuel Ribeiro publicava no<br />

Ban<strong>de</strong>ira Vermelha, a propósito do comportamento governamental nessa greve ou o<br />

pavor frio que o governo sentia pela propaganda da revolução triunfante na Rússia<br />

conduziram à proibição da Fe<strong>de</strong>ração Maximalista.<br />

Porém, passados escassos três meses viria a fundar-se o Partido Comunista<br />

Português, dando seguimento ao coro <strong>de</strong> vozes que no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sarticulação da<br />

Fe<strong>de</strong>ração Maximalista alvitravam a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um Congresso comunista 88 .<br />

O ambiente que se vivia nos meios operários e sindicalistas continuava, apesar<br />

<strong>de</strong> tudo, favorável a um reagrupamento <strong>de</strong> sectores operários, mesmo minoritários e<br />

frágeis. A luta <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias ganhava fôlego, procurava a <strong>de</strong>marcação e a separação <strong>de</strong><br />

águas. Mesmo no movimento social, os sectores mais radicais acusavam <strong>de</strong> modo cada<br />

vez mais sonoro a CGT <strong>de</strong> não prestar o <strong>de</strong>vido apoio às greves que vinham ocorrendo,<br />

como as dos ferroviários.<br />

O processo <strong>de</strong> constituição do Partido Comunista arranca assim a partir <strong>de</strong> uma<br />

reunião convocada para discutir a criação <strong>de</strong> uma organização cuja actuação pu<strong>de</strong>sse<br />

assumidamente extravasar os limites sindicais. João Luís Nascimento Cunha,<br />

funcionário público, João Castro e o metalúrgico António Peixe promovem-na a 12 <strong>de</strong><br />

Dezembro <strong>de</strong> 1920 na Associação <strong>de</strong> Classe dos Caixeiros <strong>de</strong> <strong>Lisboa</strong>.<br />

Se Cunha e Peixe haviam participado na fundação da Fe<strong>de</strong>ração Maximalista,<br />

Castro, que se lhes junta, é um socialista <strong>de</strong>scontente com a política do seu partido e que<br />

podia estabelecer a ponte com muitos daqueles que no II Congresso do Partido<br />

Socialista Português, dois meses antes, haviam criticado a orientação partidária, ainda<br />

que sem qualquer resultado, admitindo inclusivamente a a<strong>de</strong>são à Internacional<br />

Comunista 89 .<br />

Nestas circunstâncias, a reunião para criar uma nova organização foi bastante<br />

participada, com antigos maximalistas, em maioria, mas também com anarquistas e<br />

anarco-sindicalistas recém-chegados, assim como um sector <strong>de</strong> socialistas.<br />

No entanto, apesar <strong>de</strong> João Castro propor aí uma moção que <strong>de</strong>fine a<br />

organização a criar como “extra-sindical” e <strong>de</strong> carácter fe<strong>de</strong>ralista, a discussão<br />

continuava a não conseguir romper com o lastro sindicalista predominante e as<br />

resistências a criar uma organização <strong>de</strong> cariz abertamente político eram muitas, a<br />

começar pelo próprio Carlos Rates, um prestigiado dirigente sindicalista que se havia<br />

88 Cf José Pacheco Pereira, O primeiro ano <strong>de</strong> vida do Partido Comunista Português, in História [1ª série], 47, Setembro <strong>de</strong><br />

1982, p. 3<br />

89 I<strong>de</strong>m, pp 3-4<br />

47

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!