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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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O Avante! começa por noticiar a sua prisão como membro do Comité Central,<br />

sublinhando tratar-se <strong>de</strong> um dos mais antigos militantes em activida<strong>de</strong>, com 28 anos <strong>de</strong><br />

vida partidária, <strong>de</strong>z dos quais preso, manifestando preocupação por <strong>de</strong>sconhecer o seu<br />

para<strong>de</strong>iro às mãos da polícia 1450 .<br />

Só muitos meses <strong>de</strong>pois, em Julho <strong>de</strong> 1961 é que O Militante publica uma<br />

pequena nota em três linhas, segundo a qual o Comité Central do <strong>PCP</strong> <strong>de</strong>libera a sua<br />

suspensão do partido até esclarecimento e resolução ulterior <strong>de</strong> “aspectos da conduta”<br />

graves, embora salvaguardando o seu comportamento perante a polícia, tendo-se<br />

recusado a prestar quaisquer <strong>de</strong>clarações 1451 .<br />

A notícia da sua expulsão parece nunca ter sido publicamente divulgada, porém<br />

uma <strong>de</strong>liberação interna <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong>sse ano <strong>de</strong>termina “comunicar a todo o<br />

Partido que por actos imorais, por graves faltas conspirativas que punham em perigo a<br />

segurança da Direcção do Partido e por gastos in<strong>de</strong>vidos <strong>de</strong> dinheiro, o Comité<br />

Central <strong>de</strong>cidiu, por unanimida<strong>de</strong>, expulsar Júlio Fogaça das fileiras do Partido” 1452<br />

A partir daí passaram a correr no <strong>PCP</strong> versões nem sempre completamente<br />

coinci<strong>de</strong>ntes sobre as circunstâncias da sua prisão, embora acentuando invariavelmente<br />

o pretenso facto <strong>de</strong> que teria sido em flagrante relação homossexual, ora na praia ora<br />

numa pensão.<br />

Por isso, quando da sala 7 do forte <strong>de</strong> Caxias, se prepara ao longo do ano <strong>de</strong><br />

1961 a fuga no carro blindado <strong>de</strong> Salazar, que virá a ocorrer em Dezembro, Fogaça é<br />

um dos que não tem lugar na viatura 1453 .<br />

Júlio Fogaça era um dos principais dirigentes em activida<strong>de</strong> no interior do país e<br />

um dirigente experimentado nas duras regras da clan<strong>de</strong>stinida<strong>de</strong>. Sabia bem dos riscos<br />

<strong>de</strong> quebra <strong>de</strong>ssas regras, por isso o que surpreen<strong>de</strong> não é a sua orientação sexual, mas,<br />

segundo a versão tornada oficial, <strong>de</strong>corrente até do próprio processo, que mantivesse<br />

um relacionamento <strong>de</strong>ssa natureza com um indivíduo exterior ao partido.<br />

Efectivamente, o jovem que é preso com Fogaça nega a sua condição <strong>de</strong><br />

militante, insinuando ter sido apenas aliciado politicamente, isto é, ser um vago<br />

simpatizante. Porém, o dirigente comunista numa carta que lhe envia em Junho invoca,<br />

num tom paternalista e franco, uma amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong> anos e aconselha-o a manter uma<br />

1450<br />

Cf. Desconhece-se o para<strong>de</strong>iro <strong>de</strong> Francisco Miguel, Júlio Fogaça e Cândida Ventura, in Avante!, VI série, 293, Setembro<br />

<strong>de</strong> 1960<br />

1451<br />

Cf. Resolução do Comité Central, in O Militante, III série, 111, Julho <strong>de</strong> 1961<br />

1452<br />

[sem título], in TCL, 2º Juízo Criminal, Processo 92/62, 16º vol., apenso a fls 833<br />

1453 Cf. José Magro, Cartas da prisão, <strong>Lisboa</strong>, Edições Avante!, 1975, p. 80<br />

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