19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Não parece, por isso, estranho que o essencial dos esforços tenha tomado um<br />

cariz antiguerrista, <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação frontal da NATO como fautor <strong>de</strong> <strong>guerra</strong>, como<br />

braço armado do imperialismo americano, e que a recolha concreta <strong>de</strong> assinaturas por<br />

um pacto das cinco gran<strong>de</strong>s potências tenha ido ficando para trás, claramente<br />

secundarizado, como é reconhecido no informe <strong>de</strong> Vilarigues, ainda que sem dominar<br />

as respectivas causas 531 .<br />

As dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> ligação <strong>de</strong> Portugal ao movimento comunista parecem<br />

insuficientes para justificar este <strong>de</strong>sfasamento. A documentação do Kominform<br />

circulava entre a elite dirigente do <strong>PCP</strong>. Muitos intelectuais comunistas, por sua vez,<br />

recebiam propaganda e imprensa kominformiana por meios próprios, principalmente<br />

vinda <strong>de</strong> França. Era aí, aliás, que se encontrava, por exemplo, o físico Manuel<br />

Valadares, um dos professores universitários <strong>de</strong>mitidos em 1947, muito próximo <strong>de</strong><br />

Fré<strong>de</strong>ric Juliot-Curie, que presidia ao Comité francês dos Partidários da Paz. Valadares<br />

participa já como representante português no primeiro Congresso Mundial da Paz,<br />

pertence ao Comité Organizador do segundo em 1952 é o representante português no<br />

Conselho Mundial da Paz 532 .<br />

Nestas circunstâncias, fosse porque os elementos que constituíam o pequeno<br />

núcleo <strong>de</strong> direcção central permanente do <strong>PCP</strong> não se tivessem apercebido da subtileza<br />

da evolução <strong>de</strong> posições, fosse antes em virtu<strong>de</strong> da difícil a<strong>de</strong>quação <strong>de</strong>ssa nova<br />

orientação à situação concreta portuguesa, dado o carácter do regime, ou fosse ainda<br />

<strong>de</strong>vido ao isolamento político em que o partido se <strong>de</strong>batia, tudo isso viria a agravar a<br />

situação <strong>de</strong> acuo propícia ao florescimento do sectarismo.<br />

Além dos problemas políticos, girando em torno da <strong>de</strong>fesa da Paz, a reunião<br />

ampliada do Comité Central, <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1952 tratou <strong>de</strong> dois outros aspectos, virados<br />

para <strong>de</strong>ntro, mas que ajudam a perceber o ambiente que então se vivia. Joaquim Pires<br />

Jorge (Gomes) abordou a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vigilância revolucionária e do uso dos<br />

mecanismos <strong>de</strong> crítica e auto-crítica, enquanto que José Gregório (Alberto) abordou<br />

aspectos relacionados com a elevação do nível i<strong>de</strong>ológico do partido .<br />

O Comité Central assumia que a luta contra o oportunismo e contra o fascismo<br />

eram inseparáveis, que o momento era <strong>de</strong> cerrar fileiras, <strong>de</strong> <strong>de</strong>purar o partido,<br />

purificando-o, <strong>de</strong> modo a que melhor pu<strong>de</strong>sse enfrentar a gran<strong>de</strong> tempesta<strong>de</strong> política e<br />

i<strong>de</strong>ológica que a <strong>guerra</strong> <strong>fria</strong> introduzira.<br />

531 Cf. I<strong>de</strong>m, p. 5<br />

532 Cf. IAN/TT, Pi<strong>de</strong>-DGS, P. 229/47-SR, [129, 132, 143, 146, 164, 171]<br />

209

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!