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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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que “Da ARA nada sei, mas posso dizer que estava <strong>de</strong> acordo com a sua orientação e<br />

com as suas acções…” 53 , enquanto que no segundo dos livros 54 , publicado nove anos<br />

mais tar<strong>de</strong>, <strong>de</strong>saparecem mesmo todas as referências a esta activida<strong>de</strong>.<br />

Mas, mais <strong>de</strong>cepcionantes ainda, são as magras memórias publicadas por<br />

Joaquim Gomes 55 , um dos principais dirigentes a partir dos anos 50, que se limita<br />

praticamente à narrativa <strong>de</strong> episódios <strong>de</strong>sgarrados, que ilustrando aspectos da vida<br />

clan<strong>de</strong>stina e da vida prisional, adiantam pouco em relação aos períodos em que teve<br />

um papel particularmente <strong>de</strong>stacado, fosse no Porto nas eleições <strong>de</strong> 1958, em 1961-62<br />

no processo <strong>de</strong> instalação da FPLN ou <strong>de</strong> novo no interior como responsável da<br />

Comissão Executiva nos últimos anos <strong>de</strong> ditadura, até ao 25 <strong>de</strong> Abril.<br />

Num registo diferente, mas sem se afastar substancialmente <strong>de</strong>ste padrão são as<br />

memórias <strong>de</strong> ex-dirigentes que se mantiveram sempre próximos do partido, como<br />

Alexandre Castanheira 56 , membro da Comissão Executiva nos últimos anos 50 e na<br />

primeira meta<strong>de</strong> da década seguinte, cujo registo enovela realida<strong>de</strong> e aparente ficção,<br />

numa espécie <strong>de</strong> cortina translúcida on<strong>de</strong> se percebe e insinua uma vida cheia, on<strong>de</strong><br />

cabem as dimensões do afecto e os dramas pessoais cosendo-se com a activida<strong>de</strong><br />

militante, embora ce<strong>de</strong>ndo pouco ao aprofundamento da experiência política concreta<br />

vivida.<br />

Sobre o estado do partido e as divergências com Francisco Martins Rodrigues<br />

entre 1961 e 1963, por exemplo, Castanheira resume-as a meia dúzia <strong>de</strong> linhas<br />

cuidadosamente <strong>de</strong>puradas <strong>de</strong> <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> política e i<strong>de</strong>ológica, como se <strong>de</strong> um fugaz<br />

inci<strong>de</strong>nte se tivesse tratado:<br />

(…) o CC <strong>de</strong>ci<strong>de</strong> criar uma Comissão Executiva do Comité Central,<br />

encarregada <strong>de</strong> dirigir a luta diária no interior do país. Formam-na Blanqui Teixeira,<br />

Martins Rodrigues e Alexandre Castanheira. É em casa <strong>de</strong>ste, em Leça da Palmeira<br />

que a Comissão se reúne regularmente, e é aí que Francisco Martins começa a<br />

levantar problemas, com i<strong>de</strong>ias sobre a Revolução chinesa, sobre a necessida<strong>de</strong> da luta<br />

armada, etc. Enten<strong>de</strong>-se por isso como útil um encontro entre F. Martins e Cunhal” 57<br />

Alguns outros, tendo sido expulsos do <strong>PCP</strong> <strong>de</strong>le se reaproximaram <strong>de</strong>pois do 25<br />

<strong>de</strong> Abril, como Gilberto <strong>de</strong> Oliveira, ainda que eivado <strong>de</strong> um dorido ressentimento 58 ,<br />

53 Francisco Miguel, Uma vida na Revolução, Porto, A Opinião, 1977, p. 162<br />

54 Cf. Francisco Miguel, Das prisões à liberda<strong>de</strong> (Texto organizado por Fernando Correia), <strong>Lisboa</strong>, Edições Avante!, 1986<br />

55 Cf. Joaquim Gomes, Estórias e emoções <strong>de</strong> uma vida <strong>de</strong> luta, <strong>Lisboa</strong>, Edições Avante!, 2001<br />

56 Cf. Alexandre Castanheira, Outrar-se ou a longa invenção <strong>de</strong> mim, Porto, Campo das Letras, 2003<br />

57 I<strong>de</strong>m, p. 162<br />

58 Cf. Gilberto <strong>de</strong> Oliveira, Memória viva do Tarrafal, <strong>Lisboa</strong>, Edições Avante!, 1987<br />

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