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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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sendo expulsos, como era principalmente o caso <strong>de</strong> Velez Grilo e José <strong>de</strong> Sousa, que<br />

reuniam à sua volta velhos dirigentes como Vasco <strong>de</strong> Carvalho, Cansado Gonçalves ou<br />

Ariosto Mesquita.<br />

A aproximação ao MUNAF <strong>de</strong>stes ex-comunistas fora aliás bloqueada em larga<br />

medida por pressão do <strong>PCP</strong>, mas não haviam <strong>de</strong>ixado <strong>de</strong> trabalhar por um espaço <strong>de</strong><br />

intervenção na área do socialismo, necessariamente marginal, o que facilitava a abertura<br />

para esse tipo <strong>de</strong> entendimentos.<br />

Ainda que o processo <strong>de</strong> absorção pelo partido dos <strong>de</strong>fensores da Política <strong>de</strong><br />

Transição fizesse caminho, era lento e contraditório. E ainda que entre estes e o grupo<br />

<strong>de</strong> José <strong>de</strong> Sousa lavrasse um antagonismo profundo, sulcado nas disputas do Tarrafal,<br />

não <strong>de</strong>scartava completamente essa possibilida<strong>de</strong>, do mesmo modo que é a olhar para<br />

<strong>de</strong>ntro do partido que Cunhal <strong>de</strong>dica algumas páginas do informe à <strong>de</strong>núncia e à<br />

excomunhão do brow<strong>de</strong>rismo.<br />

Todos esses sectores bem podiam estar <strong>de</strong>sligados do movimento social e ter<br />

i<strong>de</strong>ias paralisantes ou apostar em acordos por cima, bem podiam estar fora do MUNAF,<br />

só que as pare<strong>de</strong>s da gran<strong>de</strong> casa da Unida<strong>de</strong> Nacional não estavam suficientemente<br />

impermeabilizadas e imunes à aproximação a essas.<br />

O problema é que mesmo entre os aliados políticos, mencionados como<br />

suficientemente sérios e <strong>de</strong> boa fé para negociar e subscrever acordos, havia <strong>de</strong>rivas que<br />

faziam estremecer a serenida<strong>de</strong> dos comunistas. Era o caso dos republicanos, <strong>de</strong> um<br />

sector dos agrupamentos socialistas e também <strong>de</strong> uma boa parte dos velhos anarquistas<br />

e do que da sua organização formalmente sobrevivera, que questionavam a<br />

<strong>de</strong>mocraticida<strong>de</strong> do MUNAF e do MUD, propugnavam por uma intervenção autónoma,<br />

apreciavam <strong>de</strong> modo muito crítico os movimentos sociais hegemonizados pelo <strong>PCP</strong>,<br />

<strong>de</strong>signadamente as greves da construção naval, ou, num outro registo, admitiam uma<br />

postura oposicionista mais cordata que podia implicar um intervencionismo eleitoral,<br />

por exemplo.<br />

A <strong>de</strong>finição, como em 1945, <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> condições mínimas para<br />

concorrer às eleições implicava, portanto, simultaneamente, contrariar estes objectivos e<br />

reforçar a capacida<strong>de</strong> política das plataformas organizativas <strong>de</strong> que a oposição<br />

formalmente dispunha, o MUNAF e o MUD.<br />

O MUNAF permanecia no discurso comunista como centro da activida<strong>de</strong><br />

unitária oposicionista, mas na realida<strong>de</strong> encontrava-se esvaziado e o próprio informe <strong>de</strong><br />

Álvaro Cunhal reconhecia o seu estado precário<br />

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