19.04.2013 Views

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

incidia no processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>sagregação do regime, confirmando, <strong>de</strong>sse ponto <strong>de</strong> vista,<br />

remotas previsões do <strong>PCP</strong>.<br />

O recurso a citações <strong>de</strong> Álvaro Cunhal, particularmente do importante informe –<br />

Unida<strong>de</strong>, garantia da vitória – que apresentara à reunião do CC <strong>de</strong> Abril <strong>de</strong> 1947, para<br />

corroborar asserções quanto à nova unida<strong>de</strong> preconizada, insere-se ainda na necessida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> justificar que não se está propriamente perante um novo quadro estratégico, mas<br />

antes na continuida<strong>de</strong> do que havia sido anteriormente traçado, como aliás é<br />

explicitamente referido:<br />

“Em 1946, quando do IIº Congresso Ilegal do Partido Comunista, foi<br />

apresentado o caminho do levantamento nacional para <strong>de</strong>rrubar o governo<br />

<strong>de</strong> Salazar, caso ele persistisse em não querer aten<strong>de</strong>r a vonta<strong>de</strong> do povo.<br />

Porém, <strong>de</strong> 1946 até hoje, os acontecimentos internos e externos não<br />

estiveram parados, antes evoluíram num sentido favorável às forças<br />

<strong>de</strong>mocráticas. (…) Por isso mesmo, o afastamento do Po<strong>de</strong>r da camarilha<br />

salazarista se põe agora em termos diferentes, visto que, tanto internamente<br />

como externamente, as condições são diferentes do que então eram…” 676 .<br />

Por mais que se invocasse Álvaro Cunhal, e internamente isso era seguramente<br />

necessário, por mais que se invocasse o IV Congresso como gran<strong>de</strong> moldura<br />

programática, o certo é que se estava perante uma estratégia efectivamente diferente.<br />

Não se tratava apenas <strong>de</strong> admitir a possibilida<strong>de</strong> da transição pacífica, nem esta<br />

era apenas uma via <strong>de</strong>sejável, mas a via adoptada, em torno da qual se fundamentava e<br />

argumentava. Os ventos dos XX Congresso dos PCUS acalentavam-na, davam-lhe<br />

força, com o todo o peso e o impacto que a opinião dos soviéticos tinha no PC<br />

Português.<br />

Por outro lado, a via pacífica era indissociável da tese da profunda <strong>de</strong>sagregação<br />

do regime, on<strong>de</strong> se fundava a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> atrair os sectores <strong>de</strong>scontentes ou em<br />

dissídio, a ampliação da base política e social da Frente, abrindo-a a uma pretendida<br />

burguesia anti-monopolista e anti-imperialista, dando assento a sectores conservadores<br />

que tinham activamente feito o caminho do anti-comunismo no Exército, na GNR, mas<br />

particularmente na Legião.<br />

Estava-se perante um outro mo<strong>de</strong>lo estratégico para o <strong>de</strong>rrube do regime, um<br />

outro mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> transição <strong>de</strong>mocrática que, nos seus contornos mais fortes se<br />

aproximava afinal da esconjurada “Política <strong>de</strong> Transição”, que em novos mol<strong>de</strong>s,<br />

676 I<strong>de</strong>m, p.20<br />

267

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!