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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Tratava-se da primeira reunião do CC realizada fora do país. Assim, da<br />

Comissão Executiva participaria apenas um elemento, justamente Martins Rodrigues,<br />

cujas divergências políticas teria então oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> discutir, bem como <strong>de</strong><br />

conversar com Álvaro Cunhal, ao mesmo tempo que levava o relatório da Comissão<br />

Executiva a ser apresentado na reunião.<br />

Blanqui Teixeira, o único membro do Secretariado <strong>de</strong>ntro do país, por isso<br />

mesmo responsável pela Comissão Executiva, havia sido preso na sua instalação<br />

clan<strong>de</strong>stina em Coimbra, em Maio <strong>de</strong>sse ano, praticamente nas vésperas da reunião e<br />

Alexandre Castanheira, por mais esta razão, não participaria na reunião, mantendo-se no<br />

interior.<br />

Martins Rodrigues parte para Moscovo com expectativas na discussão que iria<br />

travar. Sabia que Francisco Miguel estava lá, que provavelmente participaria na reunião<br />

e tinha uma enorme confiança política nele, assim como acreditava que pu<strong>de</strong>ssem haver<br />

no Comité Central opiniões diferentes, admitindo até po<strong>de</strong>r verificar-se uma divisão <strong>de</strong><br />

opiniões com alguma expressão.<br />

A reunião do CC juntou assim em Moscovo à volta <strong>de</strong> nove elementos, a maioria<br />

no entanto estava fora do país, como era o caso dos elementos do Secretariado – Álvaro<br />

Cunhal e Sérgio Vilarigues e Joaquim Gomes – mas também <strong>de</strong> Francisco Miguel e <strong>de</strong><br />

Georgete Ferreira, vinda <strong>de</strong> Praga. Do interior estava pelo menos António Gervásio.<br />

Assistiram ainda Pedro Ramos <strong>de</strong> Almeida, já cooptado para o CC ou nas vésperas <strong>de</strong> o<br />

ser e Veiga <strong>de</strong> Oliveira, quadro importante, mas que não integrava o CC.<br />

A reunião discutiu um informe sobre a linha política e táctica do partido<br />

apresentado por Cunhal, que <strong>de</strong>u origem a uma resolução do Comité Central. Teria sido<br />

em torno da orientação que o secretário-geral do <strong>PCP</strong> imprimiu a esse documento que<br />

muitas das questões levantadas por Martins Rodrigues pu<strong>de</strong>ram ser abordadas.<br />

Segundo este, a argumentação contra as suas i<strong>de</strong>ias vieram, como era <strong>de</strong> esperar,<br />

fundamentalmente <strong>de</strong> Álvaro Cunhal; no entanto, num tom que não quis ser logo <strong>de</strong><br />

censura e con<strong>de</strong>nação, mas mais <strong>de</strong> mágoa e <strong>de</strong>silusão, como que “um pouco<br />

<strong>de</strong>sanimado pelo seu discípulo fiel estar a pôr aqueles problemas” 1252 .<br />

Sérgio Vilarigues e Francisco Miguel colocaram-se ao lado <strong>de</strong> Cunhal, <strong>de</strong> modo<br />

incondicional, carregando mais nas críticas a Martins Rodrigues. Para este, as posições<br />

sustentadas por Francisco Miguel foram particularmente <strong>de</strong>cepcionantes, pois do<br />

convívio na prisão e das próprias críticas que a maioria dos dirigentes presos lhe fazia<br />

1252 Entrevista a Francisco Martins Rodrigues, <strong>Lisboa</strong>, 12 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1997<br />

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