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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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correspondência em nome do Movimento 369 . Mas, ao mesmo tempo, continua ainda a<br />

ser possível organizar significativas acções <strong>de</strong> rua, como as manifestações <strong>de</strong> 31 <strong>de</strong><br />

Janeiro, já em 1946, no Porto e particularmente em <strong>Lisboa</strong>.<br />

A manifestação fora, em <strong>Lisboa</strong>, meticulosamente preparada pelos militantes<br />

comunistas na Comissão Distrital do MUD. Fora o caso, por exemplo <strong>de</strong> Mário Soares<br />

que “Havia durante semanas trabalhado intensamente, feito planos e realizado <strong>de</strong>zenas<br />

<strong>de</strong> reuniões preparatórias” 370 . Ao apelo do Movimento teriam estado na rua muitos<br />

milhares <strong>de</strong> pessoas, 50 mil segundo o <strong>PCP</strong>. Na base da estátua <strong>de</strong> António José <strong>de</strong><br />

Almeida cada comissão do MUD presente <strong>de</strong>positava uma coroa <strong>de</strong> flores e apesar do<br />

dispositivo policial intimidatório, foi possível organizar dois cortejos que seriam<br />

violentamente dispersos, mas já bastante longe do local da estátua, revelando a eficácia<br />

organizativa do evento.<br />

Se para Mário Soares, esta <strong>de</strong>monstração teria suscitado a intensificação do<br />

cerco repressivo ao MUD 371 , o <strong>PCP</strong> retiraria daí os necessários divi<strong>de</strong>ndos que lhe<br />

permitiam concluir que se inseria numa tendência evi<strong>de</strong>nciada <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Maio do ano<br />

anterior em que “o povo português entrou abertamente no caminho da luta política”.<br />

Para o Partido Comunista esse era mais um gran<strong>de</strong> passo no caminho da “conquista da<br />

Democracia”. A acção continha os ingredientes políticos essenciais:<br />

“Como no Dia da Vitória é o povo português que canta o hino<br />

nacional e empunha a ban<strong>de</strong>ira nacional e são os fascistas que carregam<br />

sobre os que cantam a Portuguesa e arrancam as ban<strong>de</strong>iras nacionais das<br />

mãos dos manifestantes” 372 .<br />

Só agora, o <strong>PCP</strong> <strong>de</strong>slocava com <strong>de</strong>terminação o eixo da sua intervenção para o<br />

MUD, para a <strong>de</strong>fesa da sua legalida<strong>de</strong>, para o reforço da sua organização. As referências<br />

à superior função dirigente do CNUAF perdiam centralida<strong>de</strong> no seu discurso político.<br />

Por outro lado, também no seio do partido, havia militantes e quadros que<br />

<strong>de</strong>sprezavam as possibilida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> trabalho legal pelos efeitos <strong>de</strong>vastadores da repressão<br />

e, por isso, sustentavam a prevalência do trabalho ilegal, clan<strong>de</strong>stino, o recurso a acções<br />

violentas, afastando-se assim do MUD.<br />

É neste contexto que começam a chegar a <strong>Lisboa</strong>, vindos do Tarrafal,<br />

amnistiados, membros da OCPT que <strong>de</strong>fendiam a “Política <strong>de</strong> Transição”. O seu<br />

369<br />

Cf. Dossier Repressão. Requisições <strong>de</strong> emblemas, Arquivo <strong>de</strong> Manuel João da Palma Carlos<br />

370<br />

Mário Soares, Portugal Amordaçado, Arcádia, s.l., 1974, p. 125<br />

371<br />

Cf. I<strong>de</strong>m, p. 126<br />

372<br />

Em 31 <strong>de</strong> Janeiro a Nação manifestou-se contra o governo fascista, in Avante!, VI série, 85, Março <strong>de</strong> 1946<br />

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