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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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amargo em relação a essa sucessão <strong>de</strong> acontecimentos, como se <strong>de</strong> um soco no<br />

estômago se tratasse.<br />

Numa reunião, para discutir o XX Congresso e a questão da Hungria, um dos<br />

militantes presentes reconhece que se não per<strong>de</strong>u a confiança no marxismo, no<br />

socialismo e no Partido, “Para alguns amigos os erros que apareceram fê-los per<strong>de</strong>r a<br />

confiança” 687 .<br />

No entanto, outros vão manifestando as suas perplexida<strong>de</strong>s e a mesmo a sua<br />

indignação sobre a forma como a questão húngara foi tratada pelos soviéticos. Um outro<br />

colocará a questão nestes termos:<br />

“Não compreendo a intervenção soviética na Hungria. Não há<br />

dúvida que foi o exército soviético que resolveu a situação. A explicação da<br />

Rádio Moscou não me satisfez. Custa-me a compreen<strong>de</strong>r que <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

tantos anos <strong>de</strong> Democracia Popular na Hungria, o Partido e o exército não<br />

tenham sido capazes <strong>de</strong> resolver a situação” 688<br />

Mas há quem manifeste dúvidas se Nagy é ou não um traidor, quem afirme que<br />

foi violado o princípio da não intervenção nos assuntos internos dos outros países ou<br />

ainda quem diga que está simultaneamente alegre e triste com o sucedido, alegre porque<br />

a situação interna da Hungria foi resolvida e triste porque isso só foi possível à custa da<br />

intervenção soviética, o que veio abalar o prestígio da URSS.<br />

Quando muitos <strong>de</strong>stes militantes ousam dar a sua opinião fazem-no <strong>de</strong> modo<br />

inseguro, tímido e como que <strong>de</strong>sculpando-se ao mesmo tempo por eventualmente<br />

estarem a dar opiniões erradas, pois reconhecem o seu baixo nível político e i<strong>de</strong>ológico.<br />

Mais <strong>de</strong>sassombrado é, por exemplo, Lobão Vital que da prisão, em carta a<br />

Olívio França, um dos advogados do processo do MND, não hesitará em escrever:<br />

“E é precisamente por eu <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o direito <strong>de</strong> livre discussão que<br />

também não posso admitir, seja a que título for, que um exército<br />

estrangeiro interfira na vida dum País. De resto, ao fazer esta afirmação<br />

peremtória, estou apenas a reproduzir o que sempre tenho afirmado, sem<br />

qualquer hesitação, em toda a minha vida pública. De facto só uma Nação<br />

podia resolver – e resolve – os seus problemas” 689<br />

687<br />

Sobre o XX Congresso e o problema da Hungria (Algumas opiniões dos camaradas do organismo E), s.d., dact., p. 1, in<br />

TCL, 4º JCL, Processo 66/59, 8º vol. Apenso a fls 421<br />

688<br />

I<strong>de</strong>m, p. 2<br />

689<br />

Carta <strong>de</strong> António Lobão Vital a Olívio França, Colónia Penal <strong>de</strong> Santa Cruz do Bispo, 26 <strong>de</strong> Novembro <strong>de</strong> 1956, mns,<br />

fotocópia, in IAN/TT, Pi<strong>de</strong>-DGS, P. 8127-SR, [288-289]<br />

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