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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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não só a participação <strong>de</strong> militantes do partido na aventura golpista, como a reconhece<br />

como via possível, embora falhada, para a tomada do po<strong>de</strong>r em Portugal, estabelecendo<br />

singelos paralelismos com os eventos na Rússia <strong>de</strong> Março <strong>de</strong> 1917 109 .<br />

No início do ano seguinte Relacionado ou não com a ausência <strong>de</strong> Carlos Rates,<br />

que se <strong>de</strong>slocara a Moscovo no início <strong>de</strong> 1924 para participar no V Congresso da<br />

Internacional Comunista, verifica-se uma tentativa <strong>de</strong> inflexão na orientação partidária,<br />

passando a focalizar a propaganda no perigo <strong>de</strong> um golpe <strong>de</strong> direita e a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r uma<br />

frente das esquerdas que incluísse a CGT, naturalmente, mas não excluindo a esquerda<br />

republicana.<br />

Todavia, este perigo da direita e a abrangência da frente das esquerdas, que faz<br />

com que numa gran<strong>de</strong> manifestação em Fevereiro <strong>de</strong>sse ano, on<strong>de</strong> se gritava “Abaixo a<br />

reacção!” e “Fora o predomínio das forças vivas!”, os militantes comunistas, ao mesmo<br />

tempo que afirmam na sua imprensa estar perante o início da revolução proletária,<br />

<strong>de</strong>claram, ter sido por sua iniciativa e esforço que os manifestantes que queriam tomar<br />

<strong>de</strong> assalto o parlamento, em S. Bento, foram <strong>de</strong>sviados daí e canalizados para a se<strong>de</strong> do<br />

jornal A Batalha.<br />

Basculando num intervalo <strong>de</strong> semanas entre a participação golpista e o assumido<br />

refrear do movimento <strong>de</strong> massas, ao mesmo tempo que mantinha a versão da revolução<br />

iminente, o <strong>PCP</strong> nadava num mar <strong>de</strong> fragilida<strong>de</strong>s políticas, <strong>de</strong> in<strong>de</strong>finições tácticas e <strong>de</strong><br />

profundas contradições, que acabavam por dividir o próprio partido internamente.<br />

Não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser bastante significativo, a este propósito, que no V Congresso da<br />

IC, em Junho-Julho <strong>de</strong> 1924, a representação do <strong>PCP</strong> tenha sido assegurada não por<br />

Carlos Rates, o principal dirigente do partido que encabeçara a <strong>de</strong>slocação ao<br />

Congresso, mas por Jules Humbert Droz 110 . Apesar <strong>de</strong> toda a sua intervenção em Agosto<br />

e em Novembro <strong>de</strong> 1923 se ter orientado para um apoio a Rates e ao seu grupo, o<br />

“internacional”, não <strong>de</strong>ixava <strong>de</strong> reconhecer que “não tinha ilusões sobre a maturida<strong>de</strong><br />

comunista da direcção do partido” 111 .<br />

Quando em fins <strong>de</strong> 1924 se começa a <strong>de</strong>senhar a irreversível cisão no seio da<br />

CGT, que se revelaria bem mais mo<strong>de</strong>sta do que aquilo que os seus protagonistas<br />

julgavam 112 , <strong>de</strong>senhava-se igualmente um fortíssimo abalo na sustentabilida<strong>de</strong> da<br />

palavra <strong>de</strong> or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> frente única com a CGT, expressa após o fracasso do envolvimento<br />

109 Cf António José Telo, Decadência e queda da I República Portuguesa, 1º volume, A Regra do Jogo, <strong>Lisboa</strong>, 1980, p. 334<br />

110<br />

Cf João G.P. Quintela, Para a História do movimento comunista..., p. 67<br />

111<br />

Relatório e memórias <strong>de</strong> Jules Humbert Droz..., p. 89<br />

112<br />

Cf César <strong>de</strong> Oliveira, O Movimento Sindical Português. A primeira cisão, PE-A, Mem Martins, 1984, p.70<br />

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