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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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Internamente está em marcha uma enorme e tentacular operação <strong>de</strong> recuperação<br />

política por parte <strong>de</strong> Salazar. Tratava-se efectivamente <strong>de</strong> pôr or<strong>de</strong>m na casa. O<br />

sobressalto passara.<br />

Há sinais claros <strong>de</strong> que ultrapassados os inci<strong>de</strong>ntes à volta das pesadas<br />

negociações luso-britânicas, os Aliados começam a ver o regime português como apoio<br />

importante no novo <strong>de</strong>senho geo-estratégico em congeminação.<br />

Mais do que o anti-comunismo intrínseco do Estado Novo, o que pesa nesta<br />

<strong>de</strong>slocação é o papel que os Açores e a sua Base <strong>de</strong>sempenham no quadro do controlo<br />

militar do espaço atlântico. A concertação anglo-americana que daí <strong>de</strong>corre confere<br />

dimensão simbólica às ostensivas visitas <strong>de</strong> frotas militares <strong>de</strong>sses países, logo na<br />

Primavera <strong>de</strong> 1946. Nessa altura, em pleno parlamento britânico Ernest Bevin, o<br />

Secretário <strong>de</strong> Estado dos Negócios Estrangeiros do governo <strong>de</strong> Clement Attlee,<br />

mo<strong>de</strong>rado mas trabalhista, <strong>de</strong>dicará palavras <strong>de</strong> reconhecimento ao governo português<br />

pela sua colaboração com os Aliados durante a <strong>guerra</strong>.<br />

Será, como se sabe, apadrinhado por americanos e britânicos que Salazar<br />

apresenta no Verão <strong>de</strong> 1946 a candidatura <strong>de</strong> Portugal à ONU, suscitando forte reacção<br />

da oposição, <strong>de</strong>signadamente através <strong>de</strong> um comunicado da Comissão Central do MUD,<br />

que o subscreve aliás nominalmente, <strong>de</strong>clarando que a recusa do país não po<strong>de</strong> ser<br />

comsi<strong>de</strong>rado um facto positivo, ainda que “só um Governo <strong>de</strong>mocraticamente<br />

representativo po<strong>de</strong> ser o intérprete da vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong> colaboração <strong>de</strong> um Povo livre numa<br />

assembleia <strong>de</strong> Povos livres” 385 .<br />

A a<strong>de</strong>são é vetada por soviéticos e polacos, originando novo comunicado do<br />

MUD, on<strong>de</strong> se reiteram posições anteriores 386 , agora reforçadas pela <strong>de</strong>cisão da ONU.<br />

Já o <strong>PCP</strong> se regozija com o facto, pois “souberam prestar um serviço à Nação<br />

Portuguesa e à paz no mundo” 387 .<br />

Convergente nos pontos <strong>de</strong> vista, a diferença no discurso é manifesta. O apoio à<br />

recusa da a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> Portugal à ONU é nos documentos do MUD um não-dito implícito,<br />

enquanto que na imprensa do <strong>PCP</strong> constitui um elemento central para a acção política<br />

imediata.<br />

385 A Comissão Central do MUD, O MUD perante a admissão <strong>de</strong> Portugal à ONU, Agosto <strong>de</strong> 1946<br />

386 Cf. A Comissão Central do Movimento <strong>de</strong> Unida<strong>de</strong> Democrática, Portugal fora das Nações Unidas. Representação da<br />

Comissão Central do MUD ao Senhor Presi<strong>de</strong>nte da República, <strong>Lisboa</strong>, 9 <strong>de</strong> Setembro <strong>de</strong> 1946<br />

387 Salazar sujeita a Nação ao vexame e ao isolamento. A ONU votou contra Salazar por um novo governo e uma nova<br />

política, in Avante!, VI série, 94, Setembro <strong>de</strong> 1946<br />

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