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O PCP e a guerra fria.pdf - RUN UNL - Universidade Nova de Lisboa

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dirigir directamente a Cunhal, pois , como diz, “não sei a q. organismo dirigi-las, uma<br />

vez q. estas teses não nos foram “oficial/” entregues, mas apenas dadas e o CC nada<br />

estabeleceu sobre o modo <strong>de</strong> tratá-las” 968 .<br />

Aparentemente, tanto bastará para que a situação seja resolvida. O Comité<br />

Central assume formalmente que o documento está em discussão. Mas é <strong>de</strong> uma<br />

inflexão que se trata, o que provavelmente se relacionará com a forma ainda reticente<br />

como as posições <strong>de</strong> Cunhal iam sendo recebidas pela direcção do partido.<br />

Costa Carvalho não tinha dúvidas sobre a sua importância. Para si, as teses<br />

constituíam um todo inseparável, “formam uma só, q. enferma apenas <strong>de</strong> uma<br />

característica própria e essencial: ser uma antítese. E ter bem consciência disto,<br />

parece-me fundamental” 969<br />

Efectivamente, as oito teses em três páginas dactilografadas serviam para Álvaro<br />

Cunhal recolocar a análise política <strong>de</strong> conjuntura em corte com a interpretação<br />

dominante. Quase dois anos <strong>de</strong>pois, o regime estava recomposto do abalo telúrico que<br />

foi a campanha <strong>de</strong> Humberto Delgado e passara à contra-ofensiva. Era <strong>de</strong>ssa situação<br />

que se tornava necessário partir, o que até aí o Comité Central ainda não admitira.<br />

Apesar da situação objectiva nacional e internacional ser entendida como<br />

favorável às lutas operárias, populares e <strong>de</strong>mocráticas, o quadro do movimento social e<br />

político era consi<strong>de</strong>rado em refluxo. Criticava-se, por isso, que o partido sustentasse que<br />

a <strong>de</strong>composição e <strong>de</strong>sagregação do regime era irreversível e que era possível manter o<br />

movimento na ofensiva, em intensida<strong>de</strong> progressiva e em todas as frentes.<br />

Nada disso se verificava. Muitas iniciativas e campanhas tiveram <strong>de</strong> ser<br />

suspensas ou não conseguirem sequer <strong>de</strong>scolar, o que abriu por um lado campo à<br />

disseminação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias radicais como caminho para contornar essa situação – cresceram<br />

as i<strong>de</strong>ias putschistas e manteve-se o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> recurso a acções armadas – e, por outro,<br />

facilitara-se a contra-ofensiva do regime.<br />

O que importava era reconhecer abertamente o quadro <strong>de</strong> refluxo que se vivia<br />

sem ignorar as potencialida<strong>de</strong>s que a situação objectiva encerrava. Essa era a base a<br />

partir da qual se po<strong>de</strong>ria “<strong>de</strong>ntro dum prazo relativamente curto, voltar abertamente a<br />

uma posição geral <strong>de</strong> ofensiva” 970 .<br />

968<br />

Querido camarada D., 28 <strong>de</strong> Fevereiro <strong>de</strong> 1960, mns, p. 1, in TCL, 4º JCL, Processo 59/61 [44685], 18º vol., apenso a fls 1515<br />

969<br />

I<strong>de</strong>m, p. 5<br />

970<br />

Algumas teses sobre a situação Política (Para apreciação do CC), Fevereiro <strong>de</strong> 1960, dact., p 2, IAN/TT, TCL, 2º Juízo<br />

Criminal, Processo 90/62, 15º vol, apensamos a fls 879<br />

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