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Fiquei deitada na cama, aborrecida e frustrada, distraída apenas pelos<br />

magníficos temas do concerto para violino e violoncelo de Brahms que eu<br />

tinha memorizado como meu mantra, a música em que eu tinha aprendido<br />

a me concentrar para distrair minha mente da dor. A música me levou de<br />

volta ao feriado da semana que tinha sido providenciado para nós pelos meus pais naquela<br />

Páscoa, apenas dois meses antes do nascimento. A casa<br />

que eles tinham alugado ficava na enseada de Port St. Isaac, na Cornualha,<br />

um caminho muito longo a partir de Cambridge. É provável que eles tenham pensado,<br />

erroneamente, como se comprovou, que aquela seria<br />

minha última oportunidade de viajar por um longo tempo. Durante aquela<br />

semana Stephen, fazendo uma concessão para o meu gosto, tinha me dado<br />

a gravação do concerto de Brahms como presente de aniversário.<br />

Ao mesmo tempo em que a autoconfiança de Stephen tinha crescido, ele<br />

também tinha ganhado uma determinação feroz. Durante nossa estadia em<br />

Port St. Isaac, uma viagem de carro numa tarde levou-nos a Tintagel, uma<br />

das casas de renome da lenda do rei Artur, situada remotamente na costa<br />

norte da Cornualha. Foi desanimador que o castelo em ruínas não fosse visível da aldeia e, de<br />

acordo com a administradora do posto do Correio, a<br />

única maneira de chegar até lá seria descendo pelo barranco íngreme que<br />

dava no Vale de Avalon. Stephen insistiu em ver o castelo e – incapaz de negar-lhe qualquer<br />

coisa, de tão conscientes que estávamos de sua<br />

expectativa de vida mais curta – minha mãe e eu, uma de cada lado, o guiamos, o erguemos, o<br />

descemos por aquele declive selvagem, tropeçando<br />

nas pedras no nosso caminho com o vento soprando do mar em nossos rostos. A banda safira<br />

do mar que se via no fim do caminho parecia recuar,<br />

e o castelo parecia querer se esconder. Depois de termos lutado por cerca

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