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domingo – às vezes também no almoço de domingo, quando Robert, que voltara a estudar em<br />

Cambridge em 1987, levava seus amigos da faculdade<br />

para uma boa refeição –, questões da ciência e da fé formavam a base das<br />

longas e bem-humoradas discussões. Cecil Gibbons apontara em um dos seus sermões que a<br />

pesquisa científica exigia um amplo salto de fé na escolha de uma hipótese sobre a qual<br />

trabalhar, assim como a crença religiosa. Stephen geralmente sorria à menção da fé religiosa e<br />

da crença, mas, em uma ocasião histórica, ele fez a surpreendente concessão e declarou que,<br />

como a religião, sua própria ciência do universo exigia esse salto. Em seu ramo da ciência, o<br />

salto de fé – ou suposição inspirada –<br />

centrava-se em qual modelo do universo, qual teoria, qual equação<br />

escolher como objeto mais adequado de pesquisa. E então, na fase<br />

experimental, o objeto tinha de ser testado em contraste com a observação.<br />

Com sorte, a suposição – ou o salto de fé – poderia, nas palavras de Richard Feynman, provar<br />

“temporariamente não ser errada”. O cientista tinha de contar com o senso intuitivo de que sua<br />

escolha foi acertada, ou poderia desperdiçar anos com pesquisa inútil, com um resultado final<br />

definitivamente errado. Quaisquer outras tentativas de discutir as questões<br />

profundas da ciência e da religião com Stephen eram recebidas com um sorriso enigmático.<br />

Insensível às sutilezas da nossa relação e incapazes de distinguir a mente do corpo, os<br />

enfermeiros, em contrapartida, tendiam a sufocar Stephen com um cobertor de<br />

sentimentalismo. Isso contradizia sua força de<br />

espírito e minava minhas tentativas de manter o equilíbrio correto. Para eles, Stephen era um<br />

ídolo, imune a críticas ou até mesmo ao ceticismo saudável que os enfermeiros psiquiátricos<br />

haviam gerado. Eles se<br />

concentravam na calamidade da doença, em vez de na vitória sobre ela, faziam todos os<br />

caprichos do paciente e interpretavam qualquer gracejo inocente como um insulto a seu ídolo.<br />

O mesmo erro sentimental havia sido cometido anteriormente, em<br />

1985, por um artista contratado conjuntamente pelo College e a National Portrait Gallery para<br />

pintar o retrato de Stephen. A pintura, revelada naquele verão, mostrava muito claramente o<br />

páthos do corpo, caído desconjuntado na cadeira, mas não conseguiu mostrar a força de<br />

vontade e<br />

a genialidade transmitidas com tanta convicção na expressão de seu rosto e

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