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desagradavelmente transformada de nossa irreconhecível casa de aço<br />

tubular, tivemos nossos papéis estereotipados: o ator principal (embora não treinado) deveria<br />

reagir com graça natural e aprumo diante das câmeras – objeto sagrado de adoração do século<br />

XX. Enquanto eu<br />

observava impotente e participava com relutância, uma voz desesperada dentro de mim<br />

protestava. Com certeza tinha de haver um meio-termo entre essa bisbilhotice insaciável e a<br />

abordagem nitidamente impessoal do<br />

filme Horizon alguns anos antes. Contudo, um criativo meio-termo exigiria muito mais tempo e<br />

dinheiro do que qualquer um dos diretores tinha a sua<br />

disposição enquanto corriam freneticamente de um projeto para o<br />

próximo.<br />

Por falta de saída, minha rebelião silenciosa diante desse fardo extra retumbou só abaixo da<br />

superfície. Apesar das queixas das crianças, em especial de Lucy, para quem o brilho da<br />

publicidade e a intrusão das câmeras eram mais perturbadores, por causa da aproximação dos<br />

exames,<br />

eu não tinha condições de barrar a entrada das câmeras em casa por medo<br />

do antagonismo de Stephen, que apreciava a publicidade. Ele havia acabado<br />

de voltar de mais uma viagem à América, mas a pausa não me armou de força suficiente para<br />

combater as depredações da equipe de filmagem naquela que sempre foi para mim a pior<br />

época do ano, quando o pólen das<br />

árvores entrava feito pimenta em meus seios paranasais. A diretora norteamericana,<br />

que à primeira vista parecera tão amigável e simpática,<br />

rapidamente se tornou assertiva, constrangedora até, quando suas câmeras<br />

nos seguiram até a cidade para filmar minha rotina habitual de compras aos sábados de manhã.<br />

Era incomum eu ter a companhia de Stephen e sua<br />

comitiva nessa tarefa semanal, ainda mais com uma equipe de filmagem para cada um de nós<br />

seguindo nossos passos. Não houve possibilidade de<br />

tomar medidas evasivas. Não teria sido tão ruim se eles pelo menos houvessem me dado uma<br />

mão com as compras, em vez de nos seguir como<br />

sombras, enfiando suas câmeras e microfones em meu rosto enquanto eu empurrava o carrinho

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