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vinda, às vezes ressentida, quase dez anos antes. Eu havia terminado só um<br />

terço do projeto, embora houvesse acumulado grande quantidade de<br />

material, e não poderia sequer imaginar terminá-lo. O único tempo livre que eu tinha era o<br />

escasso período entre a saída de Stephen ao meio-dia e<br />

uma rápida passada nas lojas no início da tarde antes de pegar Lucy na escola às três e quinze<br />

– duas horas e meia, no máximo. No entanto, graças<br />

à insistência de Jean – e ao extraordinário exemplo de Henry Button, um dos antigos colegas<br />

de Serviço Civil de meu pai que havia começado sua pesquisa sobre o Minnesänger alemão<br />

em 1934 e o concluíra já aposentado, quarenta anos depois –, a perspectiva começou a<br />

parecer menos ridícula.<br />

Como as três áreas e os períodos de minha pesquisa estavam tão<br />

claramente definidos, o retorno à tese foi menos exigente do que eu temia.<br />

Eu já havia documentado minhas ideias sobre as primeiras composições líricas, as kharjas<br />

moçárabes, e poderia então voltar minha atenção para a segunda área de floração lírica<br />

medieval – a Galícia, o canto noroeste da Península Ibérica. Ali a linguagem era mais<br />

parecida com o português que<br />

com o castelhano, e a cidade de Santiago de Compostela havia alcançado fama internacional e<br />

sucesso comercial por causa do santuário de Santiago,<br />

cujo caixão, de acordo com uma lenda local, havia sido lavado nas costas da<br />

Galícia em 824. Por volta do século XIII, as canções dos trovadores galegos<br />

substituíram a declinante poesia de Provença como o divertimento favorito<br />

na corte castelhana, e sua composição se desenvolveu como mais uma das<br />

indústrias de grande escala desse notável rei, Afonso X, o Sábio. Entre muitas composições<br />

díspares há um grande grupo, as cantigas de amigo, que consistem em canções de amor<br />

manifestadas por mulheres e que<br />

contêm muitos dos temas e das características dos kharjas – os amantes muitas vezes se<br />

encontram na madrugada, a garota confia em uma figura materna ou em suas irmãs, o amante<br />

muitas vezes é ausente. Também apresentam elementos folclóricos no estilo e na linguagem<br />

que parecem remontar aos antecedentes tradicionais. Naquelas poucas horas à minha<br />

disposição todos os dias, era minha tarefa filtrar os elementos tradicionais das 512 cantigas<br />

de amigo, avaliar as características estilísticas e linguísticas importantes que compartilhavam<br />

com os kharjas, comparar sua língua com a aprendida de seus precedentes clássicos ou

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