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diminuiu, o desamparo me reduziu a quentes lágrimas de raiva. Meu<br />

espírito se rebelou contra a superficialidade de muitas das pessoas que haviam chegado<br />

recentemente a nossa vida. Elas nunca tiveram de ficar cara a cara com múltiplas sucessões de<br />

crises, nunca tiveram de enfrentar o<br />

imenso trauma de viver em face da morte, dia a dia por mais de um quarto<br />

de século. Elas nunca haviam sondado as profundezas da emoção ou sido dilaceradas por<br />

dilemas morais. Nunca se haviam esticado para além dos limites de suas capacidades físicas e<br />

mentais. Sua experiência com essas questões havia sido fácil, só roçando a superfície da<br />

realidade, motivada pela autogratificação, ditando aos outros valores absolutos que elas<br />

mesmas não podiam seguir. Na verdade, a seus olhos eu era um mero autômato sem a<br />

justificável pretensão de qualquer reação humana. Minha<br />

necessidade de ser amada pelo que eu era foi repudiada como absurda.<br />

Depois desse fiasco, Stephen e os Mason voltaram para a Inglaterra, e Tim e eu ficamos no<br />

moinho. A bela casa antiga e o jardim recolheram meu<br />

corpo desgastado e minha mente carbonizada no conforto de seu abraço quando a calma da<br />

zona rural da França se instalou mais uma vez. Se Stephen realmente não me queria,<br />

raciocinei, eu poderia construir uma vida boa para mim na França. Poderia me sustentar<br />

lecionando inglês e espanhol, e Tim poderia se tornar totalmente bilíngue. No início de<br />

setembro, ele começou a ir à escola da aldeia, onde logo fez amizades, não<br />

perturbadas pelas demandas da língua. Ele descia a estrada para a aldeia de<br />

bicicleta todas as manhãs, enquanto eu acenava e o via subir a colina em frente e desaparecer<br />

sob as árvores. Em casa, muitas vezes nós falávamos<br />

francês. O inglês e a Inglaterra tornaram-se estranhos para mim, um país e<br />

uma língua que abrigaram e expressaram tormento pessoal extremo – para<br />

não falar das injustiças políticas generalizadas dos anos de Margaret Thatcher –, ao passo que<br />

a França oferecia um novo estilo de vida, novos amigos e um senso de igualdade. Além disso,<br />

a França, um país<br />

predominantemente católico, era devoto da Mãe de Jesus, a intermediária<br />

feminina para as figuras masculinas da Trindade. Ali uma mulher tinha um<br />

lugar reconhecido na divina ordem das coisas. Maria teve uma presença humana que foi<br />

trágica, amorosa e reconfortante. Muitas vezes, nas igrejas

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