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forma mais rara, aquela que havia atacado Stephen, que resulta em uma paralisia progressiva<br />

dos músculos voluntários do corpo inteiro – incluindo, a certa<br />

altura, a garganta – por um período mais longo, talvez cinco anos ou, no máximo, dez. A<br />

sobrevivência de Stephen – dezesseis anos desde o<br />

momento do diagnóstico, em janeiro de 1963 – fez dele um fenômeno médico, tão inexplicável<br />

quanto a própria doença.<br />

Ao longo dos anos seguintes Jonathan e eu demos muitos recitais juntos<br />

de repertório barroco para a incipiente Motor Neuron Disease Association,<br />

em igrejas por toda a Ânglia Oriental, conseguindo arrecadar quantias bastante respeitáveis de<br />

dinheiro, e como Stephen geralmente se destacava<br />

na plateia, a ELA e a Associação chegaram ao conhecimento do público.<br />

Como voluntária, visitei algumas das famílias atingidas na região, cuja vida havia sido<br />

abalada por um diagnóstico que deixara a todos chocados e perplexos, como a nós anos antes.<br />

Eu sentia que tinha o dever de tentar dar<br />

a essas famílias o benefício de nossa experiência, transmitindo-lhes as técnicas práticas que<br />

havíamos desenvolvido para o controle da doença, e<br />

destacando o fato de que Stephen, o sobrevivente, era a prova viva de que o<br />

diagnóstico não era necessariamente uma sentença de morte se a pessoa tivesse vontade de<br />

lutar. Talvez porque as pessoas que conheci fossem todas muito mais velhas que nós, não<br />

pareciam dispostas a lutar com a mesma veemência. Com certeza ficaram feridas e aturdidas,<br />

mas revelavam<br />

mais calma e aceitação do que eu esperava. O estilo de vida frenético, que<br />

se tornou a marca de nossa rejeição à doença, não era para elas. Viviam tranquilamente,<br />

apreciando tudo o que havia sido feito por elas, gratas por<br />

todo o amor e carinho que recebiam de suas famílias, muitas vezes à espera<br />

de seu destino com resignação. Eu ia com cautela, temendo invadir a privacidade delas ao<br />

introduzir propostas brilhantes e bem-intencionadas<br />

de exercícios, dietas, injeções ou vitaminas. Havia, ao que parecia, um elemento na vida<br />

dessas pessoas que faltava na nossa e que eu me vi invejando. Não era derrotismo, mas paz<br />

interior.

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