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carrinhos de mão ou barracas no caminho, e pela postura adotada por meu<br />

lojista e outros nas proximidades, parecia que eles tinham a reputação de<br />

ter coceira no dedo do gatilho. Quando o barulho de sua passagem, das botas sobre o<br />

calçamento e seus gritos haviam morrido na distância, o lojista voltou para dentro suspirando.<br />

Pediu desculpas por me empurrar pela porta e simplesmente disse:<br />

– Veja só, temos de ter muito cuidado.<br />

Eu comprei o colar e uma placa pintada à mão ricamente decorada e me<br />

despedi, prometendo voltar. Voltei no último dia e descobri todas as lojas<br />

fechadas. Estavam fechadas com tábuas, e além dos gatos, as ruas estavam<br />

desertas. O velho espetáculo de luz, vida, ruído e cor havia desaparecido.<br />

Em todos os lugares, em cada rua, cada esquina, cada praça, havia a escuridão lúgubre e<br />

intimidante – uma cidade fantasma que fechara suas portas para os viajantes do tempo.<br />

Assim como simpatia pelos árabes, eu sentia uma afinidade natural com<br />

o povo judeu: muitos dos nossos amigos eram judeus, altamente<br />

inteligentes, articulados e sensíveis, cujas famílias haviam sido devastadas pelo Holocausto.<br />

Contudo, eu não poderia, simpatizar com as táticas desumanas do exército israelense que eu<br />

havia testemunhado no bairro árabe de Jerusalém, ainda menos do que poderia simpatizar com<br />

o<br />

repugnante motorista que nos havia sido atribuído. Era um judeu norte-americano de origem<br />

centro-europeia que expressava suas opiniões em voz<br />

alta e de forma grosseira aonde quer que fôssemos. Enquanto dirigia pela<br />

estrada sinuosa até o Mar Morto, ele apontou para uma fileira de casas brancas nas colinas.<br />

– Veja – disse ele com orgulho –, é um dos nossos assentamentos, estamos construindo todas<br />

essas casas. Os árabes têm essa terra há dois mil anos e não fazem nada com ela. Eles tiveram<br />

sua chance, mas, agora, é<br />

nossa vez, e eles querem nos empurrar para o mar.<br />

Eu havia exaustivamente ouvido esses argumentos antes, pronunciados<br />

no mesmo tom norte-americanizado monótono por outros imigrantes. Mais

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