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face da necessidade avassaladora. Coloquei todas<br />

as informações adequadas que pudessem influenciar a comissão, não<br />

deixando de mencionar que Stephen havia sido um visitante frequente nos<br />

Estados Unidos e recebera muitos títulos honoríficos lá. Também incluí fotografias, tiradas em<br />

tempos mais felizes, da família sorridente. Era essencial garantir à Fundação que qualquer<br />

subvenção seria administrada<br />

por uma equipe de contabilistas profissionais, por isso, minha próxima tarefa era negociar<br />

com as autoridades da Universidade e persuadi-las a administrar o fundo em nosso nome. As<br />

negociações foram complexas e demoradas, mas a boa vontade demonstrada foi encorajadora.<br />

A necessidade de criar um regime de enfermagem privada era o mais urgente, uma vez que<br />

certos aspectos do tratamento que Stephen estava recebendo no hospital eram menos que<br />

satisfatório. Na UTI ele havia recebido toda a atenção dos enfermeiros especializados, mas a<br />

situação mudou quando ele foi para a ala neurológica. A enfermagem de lá era em<br />

geral alegre e competente, mas alguns membros de sua equipe pareciam não ser tanto. Eram<br />

muito menos em proporção ao número de pacientes que na UTI, mas a falta de dedicação,<br />

compreensão e continuidade era muitas vezes alarmante, principalmente porque muitos dos<br />

pacientes<br />

estavam em estado vegetativo, incapazes de reclamar, pensar ou até<br />

mesmo falar por si mesmos. Uma enfermeira, em particular, apareceu para<br />

tirar proveito desse estado para infligir um tratamento quase desumano.<br />

Ela estava de serviço quando eu cheguei para uma visita à tarde. Stephen, já sentado em sua<br />

cadeira de rodas, começou a fazer caretas e se contorcer de<br />

desconforto enquanto a jovem enfermeira, de expressão impassível, andava<br />

pelo quarto, deliberadamente – ou assim parecia – ignorando a necessidade<br />

urgente de ele urinar. Eu ajudei Stephen e mandei a enfermeira sair do quarto. Essa era sua<br />

atitude habitual, explicou Stephen tremendo de raiva.<br />

Ela sempre ignorava suas necessidades quando estava de plantão. Ele não<br />

confiava nela e tinha medo do que pudesse fazer ou deixar de fazer. Eu entendia o que ele<br />

queria dizer. Em sua expressão impenetrável e em seus<br />

olhos azuis vazios havia um toque frio de sadismo que a mim também pareceu muito

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