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durante a tarde, deixando-me livre para voltar à biblioteca. Esse sistema também permitiu que<br />

ocasionalmente eu pudesse assistir e dar seminários<br />

em Londres, confiante de que Robert estava sendo bem cuidado e Stephen,<br />

ajudado por George Ellis, era capaz de almoçar com o resto do Grupo de Relatividade no<br />

Centro Universitário recém-inaugurado.<br />

Assim, consegui meu projeto, uma pesquisa de linguística e de<br />

temáticas similares e discrepâncias dos três períodos e áreas de poesias de<br />

amor mais populares na Espanha Medieval. Enquanto Stephen percorria<br />

mentalmente o espaço, eu viajava no tempo – de volta aos kharjas, o primeiro florescimento<br />

da poesia popular nas linguagens românticas.<br />

Comecei minha pesquisa documentando o vocabulário moçárabe – um<br />

dialeto espanhol inicial da Espanha Muçulmana – usado nos kharjas, que consistia em pouco<br />

mais do que fragmentos poéticos incorporados como refrões do antigo hebraico e das odes e<br />

elegias do árabe clássico. Eu pretendia então estender o exercício para as Cantigas de Amigo<br />

em Galego-Português do século XIII, e, finalmente, para as letras populares do castelhano do<br />

século XV ou villancicos. Essas três áreas de florescimento lírico, díspares no tempo e no<br />

lugar, compartilharam muitas características<br />

comuns: as canções de amor eram todas cantadas por uma jovem, quer ansiosa para encontrar<br />

seu amante na madrugada quer lamentando sua<br />

ausência ou doença. Muitas vezes, a jovem ia confiar sua alegria ou sua dor<br />

espontaneamente à sua mãe ou às suas irmãs, mas em muitos casos o imaginário dessas letras,<br />

aparentemente originais e sofisticadas, era derivado da linguagem da formação religiosa<br />

cristã.<br />

Havia muitas teorias conflitantes, para não dizer contendas, que<br />

disputavam sobre a proveniência e a interpretação da poesia, em especial<br />

dos kharjas, e era nesse labirinto que eu tinha de encontrar meu caminho como uma estudante<br />

novata de pesquisa na biblioteca da universidade.<br />

Meu tempo era gasto examinando os enormes volumes de capa verde do catálogo, buscando<br />

artigos arcanos em registros desconhecidos, à procura<br />

de referências enigmáticas em notas de rodapé e vasculhando nas pilhas de

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