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Anais DCIMA Final-1

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Página 101<br />

locais materializadas entre esses sujeitos (que se fragmentam e se recombinam a partir das diferentes etnias<br />

presentes neste território), e; 3) das lutas sociais insurgentes, (que revelam os desdobramentos das práticas<br />

coloniais na atualidade). Tudo isso fratura a experiência social que se materializa no dia a dia e revela as<br />

inúmeras vozes que podem passar despercebidas nas dinâmicas cotidianas da capital paraense.<br />

É essa disputa entre esses distintos lugares de fala que quero apresentar. Parto da Análise do Discurso,<br />

com apoio nos estudos de Michel Foucault, e também da Antropologia e dos estudos em Comunicação, para<br />

traçar um paralelo entre dois produtos midiáticos que revelam os tensionamentos apresentados e que podem<br />

nos revelar pistas acerca das dinâmicas que se encerram neste lugar particular: a cidade de Belém.<br />

1. O cotidiano contemporâneo: redes de memórias, discursos e produções midiáticas<br />

Neste momento de “celebração”, há uma intensa produção de conteúdos midiáticos que são colocados<br />

em circulação quase diariamente na cidade de Belém. Mesmo que o aniversário de 400 anos tenha acontecido<br />

no ano passado, esses produtos são evidenciados até o momento atual. E eles ativam uma memória que leva<br />

moradores e visitantes a interagirem afetuosamente com a cidade, uma memória que reconta e destaca certos<br />

fatos históricos e os atualiza no momento presente.<br />

Trata-se de uma memória coletiva responsável por (re)afirmar laços de identidade e de pertencimento<br />

com o lugar. Ao mesmo tempo em que tece unidade entre a história do lugar e suas transformações, essa<br />

memória também costura na mesma malha a história dos sujeitos que aqui habitaram e os que estão aqui na<br />

atualidade (HALBWACHS, 1990). Assim, entendo que a memória coletiva se organiza em uma dinâmica de<br />

rede: ela atravessa e conecta, de alguma maneira, a todos que estão aqui.<br />

Outros homens tiveram essas lembranças em comum comigo. Muito mais, eles<br />

me ajudam a lembrá-las: para melhor me recordar, eu me volto para eles, adoto<br />

momentaneamente seu ponto de vista, entro em seu grupo, do qual continuo a<br />

fazer parte, pois sofro ainda seu impulso e encontro em mim muito das idéias e<br />

modos de pensar a que não teria chegado sozinho, e através dos quais permaneço<br />

em contato com eles (HALBWACHS, 1990, p. 17).<br />

Contudo, entendo que existe um problema: a memória coletiva silencia e invisibiliza outros fatos<br />

possíveis dissidentes em função da coerência que sua narrativa procura realizar. Ela detém uma força<br />

institucional que nos leva a acreditar em sua solidez, em sua estabilidade. E, assim, pouco visibiliza como ela<br />

se estabelece por<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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