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Anais DCIMA Final-1

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Página 268<br />

quanto ao caráter das identidades produzidas, pois “(...) propõe a positividade de um lugar no qual o discurso<br />

se articula sem, no entanto, reduzir-se a ele”.<br />

Segundo Martins (2011, p. 50 e 51), a imagem do sujeito negro encontra-se fortemente arraigada na<br />

literatura do século XIX, e cita:<br />

O negro bom (estereótipo da submissão), o negro ruim (estereótipo da crueldade<br />

nativa e da sexualidade sem freios); o africano (estereótipo da feiura física, da<br />

brutalidade rude e da feitiçaria ou da superstição); o crioulo (estereótipo da<br />

astúcia, da habilidade e do servilismo enganador); o mulato livre (estereótipo da<br />

vaidade pretenciosa [sic] e ridícula); a crioula ou a mulata (estereótipo da<br />

volúpia) [...]. (Bastide, 1972, p. 22 apud Martins, 2011, p. 51).<br />

Considerando os recortes discursivos apresentados acima, dentro das descontinuidades históricas<br />

que compõem estes saberes sobre a negra no Brasil, observamos o modo como os anúncios publicitários<br />

dialogam dentro de uma regularidade, que também demonstra o percurso discursivo assumido e que<br />

relaciona a todas.<br />

Na organização das séries encontradas, descrevemos o discurso primeiro sobre a mulher negra. O mito<br />

da mulata assanhada e pirracenta que provoca e consegue seu lugar por meio da oferta carnal. A história e<br />

memória entrelaçam-se na materialização da tensão entre o discurso da democracia racial e do discurso racista.<br />

No entanto, como exposto por nós, nos momentos introdutórios, aprouve à história mudar seus cursos,<br />

como reação à erupção de acontecimentos, que em resposta, remonta as práticas discursivas, como em um<br />

carrossel, com seus altos e baixos, ora mais próximos dos seus mitos fundadores, ora errante, quase diluído<br />

pela luz que faz este mesmo mito sublimar e desaparecer.<br />

Assim, ao lançarmos luz sobre o mofo cultivado na escuridão do pensamento colonialista, os<br />

estereótipos que prendiam esta mulher negra aos porões das senzalas, são transformados, pouco a pouco, em<br />

manifestações de auto aceitação e orgulho identitário, momento em que percebemos que o próprio negro é<br />

transformado em mercadoria, não de forma depreciativa, quando, justificadas pelas regularidades enunciativas<br />

presentes nas materialidades em análise, a negra é, claramente, objetificada e ofertada para consumo.<br />

Segundo Bauman (2008, p.13), o sujeito pós-moderno, independente do lugar que ocupa na sociedade,<br />

é aliciado e atraído a promover uma mercadoria sedutora e necessária:<br />

São, ao mesmo tempo, os promotores das mercadorias e as mercadorias que<br />

promovem. São, simultaneamente, o produto e seus agentes de marketing, os<br />

bens e seus vendedores (...)<br />

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