30.10.2017 Views

Anais DCIMA Final-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Página 232<br />

Ao observarmos a situação de uso desta língua percebemos que a comunicação verbal nestas<br />

manifestações entrelaça-se à comunicação visual, e a partir da união destas duas formas de comunicar<br />

compreendemos mais sobre sua situação de produção, como nos aponta Bakhtin (2009). É por meio desta<br />

articulação de linguagens, que também se torna possível a compreensão de seus enunciadores.<br />

Depois de afinarmos nossos olhar com a luz de Bakhtin, percebemos nestes enunciados (figuras 1 e<br />

2), na união da linguagem verbal e visual, um tipo de pensamento, o pensamento liminar, que pode ser<br />

entendido além de uma enunciação híbrida.<br />

Fruto da diferença colonial, esta enunciação cria condições para situações de diálogo entre o ponto de<br />

vista instituído como subalterno, os indígenas, e o hegemônico, representado pelo Estado brasileiro, que<br />

historicamente tenta invisibilizar sua presença. Podemos compreendê-la como uma “enunciação fraturada”<br />

(MIGNOLO, 2003, p.11), criada a partir de situações dialógicas entre a cosmologia territorial e a hegemônica.<br />

Ao observarmos os enunciados expostos nas figuras 1 e 2, percebemos que eles são compostos pela<br />

língua portuguesa, idioma instituído pela herança europeia, no que se refere ao elemento verbal de composição,<br />

e também pelos corpos e pinturas corporais, adornos e utensílios feitos de pena que servem para marcar a<br />

diferença identitária indígena nesta situação dialógica.<br />

Em outras palavras este tipo de enunciação reflete um “pensamento liminar” mais do que uma<br />

enunciação híbrida, pois consiste em “uma enunciação fraturada em situações dialógicas com a cosmologia<br />

territorial e hegemônica” (MIGNOLO, 2003, p.11).<br />

Passo agora a seguinte pergunta: o que reivindica esta enunciação fraturada? Os enunciados (figura 1<br />

e 2) são constituídos por imagens que nos apresentam a mobilização de corpos que assumem uma identidade<br />

indígena e levantam faixas em língua portuguesa que pedem pelo fim do preconceito, segurança para o<br />

trabalho, liberdade e respeito. Proponho neste momento uma breve reflexão entre as questões reivindicadas<br />

pelos indígenas e o assassinato da criança indígena. Para iniciar precisamos observar o contexto geográfico e<br />

político deste acontecimento: o crime aconteceu em uma região conhecida como um importante centro do<br />

agronegócio. Hoje, na representação política do Brasil, há diversos representantes que tomam a frente de seus<br />

interesses e que tentam empurrar os grupos indígenas para fora das terras em que historicamente vivem.<br />

Por outro lado, neste acontecimento criminoso, tivemos o silêncio da grande mídia brasileira. A mesma<br />

mídia que dedicou grande espaço ao terrorismo em Paris e à morte da criança Síria vítima de um naufrágio.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!