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Anais DCIMA Final-1

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Página 349<br />

tivesse morrido desta vez. Contudo, ressuscitou da cinza em forma de um homem branco. Foi à beira do riacho<br />

e atirou farinha de mandioca de cuia, aos peixes; imediatamente os peixes brancos se transformaram em gente<br />

branca e os peixes pretos, em negros. ―Mais tarde também me perseguireis!‖ disse Vanmegapraná. Fez uma<br />

casa grande daquelas que todos os cristãos possuem hoje. De madrugada, os índios da aldeia ouviram o canto<br />

do galo a grande distância; depois também as vozes de cavalos e vacas. ―Que animais serão estes? –<br />

perguntavam eles admirados. Depois viram subir fumaça ao longe e verificaram que tinham um vizinho. Um<br />

dele resolveu ir até lá e Vanmegapraná mostrou-lhe os animais domésticos e lhe disse os nomes. Depois<br />

mandou chamar os seus parentes e deu-lhes arroz e carne de gado para comer, ensinando como deviam preparar<br />

essas comidas. Ao seu tio disse: ―Se não tivesses me perseguido serias agora um homem rico‘‘. Depois<br />

perguntou a Nyimõgo se o reconhecia. Ela respondeu que não e então ele lhe disse que era seu filho. Nyimõgo<br />

chorou muito. Vanmegapraná deu muitos presentes aos seus parentes e mandou-os embora em paz.<br />

Vanmegapraná era o velho imperador D. Pedro II. (NIMUENDAJÚ: 1956, 126)<br />

Segundo Neves (2009), “esta narrativa foi traduzida por Nimuendajú no início do século XX, mas<br />

dependendo do momento vivido pelo grupo, ela recebe desfechos diferentes.” É muito provável que se o a<br />

narrativa fosse ouvida à época das intervenções do Estado com a construção da rodovia Belém-Brasília nas<br />

proximidades das terras da sociedade Apinajé, o outro ou homem branco poderia ser contado como Bernardo<br />

Sayão ou Juscelino Kubitscheck.<br />

Notamos que a sociedade indígena não possui uma explicação em sua cosmologia para o aparecimento<br />

do contato e do colonizador e acaba impondo a culpa por esse acontecimento em sua própria sociedade.<br />

O exemplo desta narrativa foi retomado para mostrar como alguns discursos são silenciados e outros<br />

postos em circulação em um determinado momento histórico. Jean Manzon, em seus filmes não retomou as<br />

memórias e nem mesmo tomou como existente as sociedades indígenas que estavam na linha da “integração<br />

nacional”. Mas, a partir da insurreição de alguns saberes, podemos contar a história a partir de uma outra<br />

perspectiva, levando em consideração os sujeitos que sempre povoaram a Amazônia e a América Latina, as<br />

sociedades indígenas.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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