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Anais DCIMA Final-1

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Página 691<br />

Esse homem [o seringueiro], para ele [Euclides da Cunha], não era outro senão<br />

o jagunço, o caboclo, o sertanejo ‘antes de tudo um forte’ [...] Euclides observou<br />

que ali havia uma sociedade principiante, fruto de uma ‘colonização à gandaia’,<br />

em que as propriedades se concentravam nas mãos de poucos, o que levava a um<br />

regime de escravidão.<br />

Ao associar a estrutura de um seringal a figura de um polvo monstruoso, precisamente ao utilizar da<br />

expressão “pieuvre” que remete à obra de Victor Hugo já analisada no item anterior, pode-se associar a figura<br />

do seringueiro euclidiano à personagem hugoana Gillliatt, no que diz respeito ao combate com a natureza. Na<br />

narrativa hugoana Gillliatt após dura batalha consegue derrotar o temido polvo com seus inúmeros tentáculos:<br />

Foi uma luta de dois relâmpagos. Gillliatt mergulhou a ponta da faca na<br />

viscosidade chata e, com um movimento giratório semelhante à torção de uma<br />

chicotada, fazendo um círculo à roda dos dois olhos, arrancou a cabeça como<br />

quem arranca um dente. Estava acabado. O bicho caiu[...] Gillliatt, contudo,<br />

receando algum ataque convulsivo da agonia, colocou-se fora de alcance dos<br />

tentáculos. Mas o animal estava bem morto. Gillliatt fechou a faca. (HUGO,<br />

1982, p.337-338)<br />

Inversamente a Gillliatt, a imagem construída do seringueiro por Euclides da Cunha, mostra um<br />

indivíduo que perde a batalha para a natureza:<br />

É a imagem monstruosa e expressiva da sociedade torturada que moureja<br />

naquelas paragens. O cearense aventuroso ali chega numa desapoderada<br />

ansiedade de fortuna; e depois de uma breve aprendizagem em que passa de<br />

brabo a manso[...] ergue a cabana de paxiúba à ourela mal destocada de um<br />

igarapé pinturesco, ou mais para o centro numa clareira que a mata ameaçadora<br />

constringe, e longe do barracão senhoril, onde o seringueiro opulento estadeia o<br />

parasitismo farto, presente que nunca mais se livrará da estrada que o enlaça, e<br />

que vai pisar durante a vida inteira, indo e vindo, a girar estonteadamente no<br />

monstruoso círculo vicioso de sua faina fatigante e estéril. (CUNHA, 2000,<br />

p.335)<br />

Verifica-se aqui um retrato da exploração a qual eram submetidos esses trabalhadores. Sendo em sua<br />

maioria nordestinos, principalmente do Ceará, esses sertanejos que outrora nutriram um desejo utópico de<br />

fortuna ainda nas terras dos sertões, acabam sendo “amansados” pela floresta, de certa maneira punidos pelo<br />

desejo vão de riqueza. Ao contrário de Gillliatt, o que pontua-se nas imagens construídas por Euclides da<br />

Cunha é:<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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