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Anais DCIMA Final-1

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Página 276<br />

A análise do livro e a relevância deste projeto são motivadas sob o olhar crítico, questionador que<br />

busca compreender como uma mulher, semianalfabeta favelada, consegue sonhar e fazer poesia de um<br />

contexto pérfido, onde a pobreza é personagem principal. Como a obra de Carolina transforma a miséria na<br />

experiência linguística do diário? São, portanto, indagações que norteiam este projeto objetivando-se em<br />

propor análises mais aprofundadas sobre a construção e a desconstrução feitas pela literatura da autora e sua<br />

subjetividade que perpassa por uma poética periférica e ousada.<br />

É preciso dizer ainda que Carolina Maria de Jesus tem em seus escritos um ato de coragem e rebeldia<br />

quando carrega um discurso político, social e histórico, visto que além de ressoar as vozes dos mazelados<br />

permite ao leitor conhecer com detalhes sobre crescimento de uma época e desmitifica sua condição de mulher,<br />

de negra na sociedade. São inquietudes que este estudo propõe levando em consideração que a história é<br />

narrada pela visão sensibilizada e experiente de quem fala de suas vivências. Como pontua Leahy-Dios (2013):<br />

Sua visão de sociedade é extremamente coerente, ela percebe com clareza as<br />

diferenças entre ser negra e pobre, morar na favela ou habitar o asfalto com suas<br />

riquezas. Ao romper com o padrão (o que é adequado para a mulher negra), ela<br />

subverte o paradigma socialmente imposto. Não há como não se impressionar<br />

com a qualidade do texto e a linguagem sofisticada com que abordava problemas<br />

sociais, políticos e econômicos com profundidade inesperada. (LEAHY-DIOS,<br />

2013, p. 29).<br />

Com base nisto, a literatura de Carolina parte do víeis político e histórico da década de 50 por<br />

denunciar as desigualdades sociais. E, ao mesmo tempo, sua narrativa permite ao leitor conhecer o contexto e<br />

social dessa época. Como acrescenta (SOUSA; SANTOS, 2011) “Carolina não é um personagem ficcional<br />

senão uma mulher à margem da sociedade dos anos 50”. Essa conjuntura em que a autora aproxima o leitor da<br />

sua escrita e ousa em fazer comparações sua convivência simples e a desigualdade por ela sofrida numa<br />

linguagem revestida de poesia Carolina relata<br />

Os meninos come muito pão. Eles gostam de pão mole. Mas quando não tem<br />

eles comem pão duro.<br />

Duro é o pão que nós comemos. Dura é a cama que dormimos. Dura é a vida do<br />

favelado.<br />

Oh! São Paulo rainha que ostenta vaidosa a tua coroa de ouro que arranha-céus.<br />

Que veste viludo e seda e calça meias de algodão que é a favela. (JESUS, 2013,<br />

p. 41).<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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