Anais DCIMA Final-1

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– seria esse um momento ideal para que cada professor inserisse em suas aulas aquilo que compõe a formação
cultural que circunda o aluno, a fim de aproximá-lo, a partir da própria identidade, dos objetivos da disciplina
– no entanto, são dadas como exemplo três obras canônicas (Macunaíma, Grande sertão: veredas e Vidas secas)
a partir das quais é afirmado que “são representações revestidas de alta carga expressiva e que, entre tantas
outras que o professor pode escolher, merecem ser apreciadas do ponto de vista estético”. Em outras palavras,
o escrito não auxilia o professor em como transformar teoria em prática. Essa falta de clareza rodeia todo o
documento, como afirma Cereja (2004):
De acordo com a proposta dos PCN+, continuaremos a ler apenas Drummond,
autor de uma “obra clássica”, o que em si é ótimo, porém não incluiremos a obra
de Paulo Coelho nem as canções de Zé Ramalho, não por razões de ordem teórica
ou pedagógica ou qualitativa, mas por absoluta falta de clareza quanto ao que
fazer com elas (CEREJA, 2004, p. 188).
De modo geral, os documentos destinados aos professores não o auxiliam de fato a melhorar suas
práticas educativas. O professor é confrontado com críticas e problemas, com os quais possivelmente concorde,
no entanto, continua sem saber como modificar a conjuntura. Em vários momentos os parâmetros curriculares
reconhecem a literatura como patrimônio identitário e chegam a afirmar que é preciso promover o resgate à
identidade cultural a partir desta, mas, como dito anteriormente, sem mostrar suficientemente como fazer.
Apesar do indiscutível potencial da literatura na formação de indivíduos críticos, esta tem sido tratada de
maneira escassa na composição curricular do ensino médio, afetando a abordagem da literatura local (foco
deste trabalho). Percebe-se, também, o maior preocupação em apresentar aos educandos o cânone das nossas
letras, deixando à margem, por consequência, as obras pouco prestigiadas, como é o caso de grande parte das
produzidas na Amazônia.
3. Considerações finais
Por fim, esse trabalho objetivou ilustrar, a partir dos documentos disponibilizados pelo governo, o
processo de invisibilidade a que a literatura tem sido subordinada. Questiona-se, a partir disso, até que ponto
as aulas de literatura tem o poder de formar leitores no modelo educacional vidente, uma vez a pouca
visibilidade da disciplina, perceptível desde a carga horária a ela atribuída até a elaboração dos PCNs. Além
disso, é discutível como se pretende resgatar as tradições populares a partir do texto literário, uma vez que falta
clareza ao especificar esse exercício.
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