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Anais DCIMA Final-1

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Página 284<br />

Há, segundo as lideranças locais, tentativas de distorção promovidas por setores públicos, que tentam<br />

mascarar os conflitos ou desqualificar, quem denuncia, critica ou pensa diferente do estado. É falado sobre<br />

“supostos quilombolas e “supostos territórios quilombolas”. A mídia, através da rádio, meio de comunicação<br />

principal do lugar, sobre o assunto, veicula e assume do ponto de vista dos que fraudam documentos para se<br />

apossarem das terras, o discurso de que os quilombolas estariam assim se autodefinindo, apenas com o objetivo<br />

de adquirirem terras.<br />

Um discurso, em vários casos, suscitado por parlamentares, proprietários de terras, empresários e<br />

setores conservadores do Estado e da sociedade brasileira, jornalistas e mesmo por certos pesquisadores.<br />

Parece ser, as comunidades, peixes menores, se comparadas aos poderosos tubarões do desenvolvimento.<br />

No caso específico que compõe este trabalho, por meio de registros orais e documentais, é possível<br />

perceber que, a titulação do território ainda se encontra sob ameaças dos latifundiários, das grandes empresas<br />

e dos interesses do próprio Estado, que têm limitado esforços neste processo. Em geral, muitas vezes, não há<br />

disposição por parte do estado em apoiar ou agilizar a condução de medidas para o reconhecimento territorial<br />

das comunidades quilombolas, ribeirinhas, indígenas e tantas outras que, alimentadas pela esperança da<br />

titulação de suas terras, lutam pelo registro oficial.<br />

Em 2011, intensificou-se a quantidade de documentos protocolados na comarca do município de Brejo,<br />

solicitando a intervenção do Poder Judiciário para assegurar a efetivação do direito a identidade. Os conflitos,<br />

só fortaleceram a luta dos quilombolas pela retomada de seu território e por seu direito de existir e se identificar.<br />

Cabe ao Estado definir e demarcar a terra e controlar os conflitos na área que sempre estiveram presentes<br />

enquanto dados estruturais na região.<br />

Quando se olha os extensos campos de soja sendo preparados para plantio, é possível recorrer ao<br />

período histórico de quando o grupo do vaqueiro Raimundo Gomes e de Francisco dos Anjos, líderes da<br />

Balaiada, se deslocavam de um lugar para outro, especialmente naquela região, combatendo na primeira<br />

metade do século XIX, com os grandes proprietários de terra, coronéis, latifundiários e o governo que oprimia<br />

os menos favorecidos e desprovidos de direitos. Os balaios lutavam por respeito, por dignidade, pela vida,<br />

contra a escravidão. Desafiaram o Império Regencial, mas como sempre, nosso Estado repressor utilizou-se<br />

da força para massacrá-los. Restou em nosso meio à história de coragem dos caboclos rebeldes que deram os<br />

primeiros passos dessa batalha que se trava até os dias de hoje.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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