Anais DCIMA Final-1

Página 375
Ao se investigar, especificamente a produção iconográfica sobre estas sociedades é possível perceber
recorrências discursivas, que se constituem como uma memória visual, construída por um olhar estrangeiro.
Neste sentido, a colonização na América Latina é um ponto de partida para se pensar os laços históricos que
envolvem estas sociedades, sob uma ótica ocidental que se atualiza, de acordo com as condições de
possibilidades.
Os discursos que permeiam o cotidiano no Brasil, atualmente, também buscam uniformizar as
sociedades indígenas e silenciar suas singularidades, ideias que desconsideram, por vezes, a existência, do
povo Tembé-Tenetehara, dos Aikewára, dos Guajajara, dos e, tenta visibilizar também a presença dos 305
povos indígenas que vivem no país, segundo dados do IBGE (2012). Os discursos que circulam na mídia, nos
livros didáticos, na internet referem-se a estes povos como se houvesse apenas uma única sociedade e uma
única maneira de ser indígena. Desta maneira, pode-se dizer que há uma atualização do discurso colonial no
que diz respeito a estes povos.
Após esta breve contextualização é possível pensar nas estratégias de dominação colonial, que envolve
relações de poder, no sentido de interesses econômicos e comerciais. As riquezas minerais e a biodiversidade
das florestas, forma e continuam sendo um dos maiores interesses do capital internacional. Esse conjunto de
técnicas de controle e tentativa de dominação pode ser considerado como dispositivo em uma aproximação
com os ensinamentos foucaultianos. Uma vez que os europeus impuseram suas leis, língua e saberes, a despeito
de qualquer crença cultivada pelas sociedades locais. Para Michel Foucault o dispositivo é constituído por um
conjunto de elementos, regidos por relações implícitas e explícitas de poder. Neste sentido o uso da imagem
pode ser visto como um dispositivo, que induz o olhar, uma forma de se criar, ou de se consolidar uma ordem
visual sobre o que é ser indígena.
Conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições,
organizações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas
administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais,
filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O
dispositivo é a rede que se pode estabelecer entre estes elementos. (FOUCAULT,
2011, p. 244).
O Michel Foucault refere-se às mais variadas formas de se instituírem as vontades de verdades
e o corpo pode ser um dispositivo de escrita para o estabelecimento destas verdades. A forma como os corpos
estão dispostos nas imagens, que serão analisadas na próxima sessão pode auxiliar nas reflexões sobre a leitura
Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado
Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805