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Anais DCIMA Final-1

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Página 501<br />

Sigismund Schlomo Freud (mais conhecido como Sigmund Freud) (1856-1939), de maneira complementar, é<br />

o sujeito representado por este olhar que perde sua estabilidade, sua posição central. Após a descoberta<br />

freudiana do conceito de inconsciente, nunca mais o “eu” será totalmente senhor em sua própria casa. Ele<br />

estará irremediavelmente dividido; o espelho que a psicanálise e a arte lhe oferecem está em pedaços e nele o<br />

“eu” se vê irremediavelmente fragmentado.<br />

A aproximação entre a arte moderna e a psicanálise vem do fato de serem, ambas, produtos culturais<br />

que compartilham um mesmo “espírito da época”, ainda que suas ligações nem sempre sejam visíveis, mas<br />

permanece frequentemente latentes, à espera de que se venha atualizá-la. E apesar do próprio fundador da<br />

psicanálise, em vez de convocar os artistas de seu tempo, preferir fazer referências, em suas publicações, a<br />

obras clássicas do pintor, escultor, poeta e arquiteto italiano Michelangelo di Lodovico Buonarroti Simoni<br />

(1475-1564) (ou simplesmente Michelangelo Buonarroti) e/ou Leonardo di Ser Pieri da Vinci (ou<br />

simplesmente Leonardo da Vinci). Inclusive, Sigmund Freud não escondia sua antipatia em relação à arte<br />

moderna. A respeito de uma obra que pertenceu a seu discípulo o psicanalista alemão Karl Abraham (1877-<br />

1925), escreveu-lhe certa vez, com ironia, que o gosto de Karl Abraham em relação ao modernismo devia ser<br />

cruelmente punido, e utilizou aspas para qualificar a “arte” dita moderna. Ao pastor e psicanalista suíço Oskar<br />

Pfister (1873-1956) ele demonstrou uma franca intolerância em relação aos expressionistas e exclamou que<br />

estas pessoas não tinham o direito de ser designadas como artistas.<br />

Contudo, principalmente a partir da Primeira Guerra Mundial (1914-1918), movimentos de<br />

vanguardas literárias e artísticas fizeram explícitas referências à psicanálise. Em nome de um novo cânone<br />

estético, que se afirmou por uma negação virulenta de todos os parâmetros vigentes e pela busca de uma<br />

expressão revolucionária que irrompeu do inconsciente, alguns artistas se aproximaram das ideias de Sigmund<br />

Freud. Um deles, o poeta francês André Breton (1896-1966), antigo educando de psiquiatria que lançou, em<br />

1924, o primeiro Manifesto Surrealista, teve um papel decisivo para a influência freudiana no meio artístico.<br />

Apenas em 1922 ele pôde ler algum livro do fundador da psicanálise, visto que, enfim, eram publicadas as<br />

traduções para o francês da Psicopatologia da vida cotidiana (1901) e das Conferências introdutórias à<br />

psicanálise (1915-1917), porém vários anos antes ele já afirmava que as ideias de Sigmund Freud lhes<br />

causavam “emoções intensas”.<br />

Em 1921, André Breton fez, em Viena, uma visita ao fundador da psicanálise. Sigmund Freud o<br />

recebeu entre suas sessões de análise vespertinas e pareceu ao poeta um senhor pequeno-burguês sem ares de<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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