Anais DCIMA Final-1

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Foucault (2003, p. 208) conta que buscou analisar de que modo o poder lançou luz sobre vidas
obscuras, fazendo com que o cotidiano de vidas tão simples fossem discursivisadas, permitindo, assim, traçar
“uma lenda dos homens obscuros, a partir dos discursos que eles trocaram com o poder”.
Tomamos esse apontamento metodológico como mote para pontuarmos que sobre os sujeitos
quilombolas pouco subsiste daquilo que eles mesmos disseram do que foram e fizeram, havendo, pois, uma
raridade desse tipo de enunciados.
A maioria dos enunciados que os discursivizam e que sobreviveram ao tempo são documentos com
ordem de prisão de escravos negros fugidos, anúncios de venda de escravos, dentre outros que o poder produziu
durante o período colonial e imperial brasileiro, fazendo com que o cotidiano de vidas tão ínfimas fosse objeto
de discurso.
No espaço desse trabalho, nos ocuparemos da busca pelas poucas linhas nas quais os próprios sujeitos
quilombolas falam deles, em documentos por eles mesmos produzidos, para traçar uma história contemporânea
dessa identidade.
Apresentamos abaixo a primeira das letras de música a ser analisada:
Musica em homenagem ao aniversário de 170 anos da comunidade Jamary dos Pretos – Composição
coletiva (2011)
Aqui em Jamary quando Ivan chegou / Quem vivia como escravo se libertou / Foi pelo Sindicato que
se descobriu / E a nossa liberdade ressurgiu.
Em 94, começou a Associação de Moradores / Quando a carta de despejo aqui chegou / Foi aí que a
nossa luta continuou.
Ivan e seus companheiros sempre lutando / E dona Ana Amélia nos ajudando / No quilombo Jamary
quando começou / Formaram a Associação de Moradores.
Ivan que hoje já mora com o senhor / Mas Ivo e Ana Amélia não nos deixou / Ivan Costa quando veio
nos reuniu / Para lutar contra o racismo no Brasil.
Foi aí que se juntou com toda igreja / Pra lutar até vencer esta peleja 170, anos de história e de poder
Quilombo Jamary parabéns pra você. (2x)
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