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Anais DCIMA Final-1

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Página 532<br />

Gerinélson era mais paciente, rapaz melindroso, sabia esperar. Já namorava de<br />

dar beijos gulosos e acochos, e nos surpreendia em pleno domingo guiando uma<br />

lambreta velha, roubada do irmão. Na garupa, uma moça desconhecida, de outro<br />

bairro. Ou estrangeira. A máquina passava perto da gente, devagar, roncando,<br />

rodeando o tronco de uma árvore. (HATOUM, 2009, p. 8).<br />

E aqueles que não negociavam ou demonstravam seus traços masculizados<br />

O Tarso era o mais triste e envergonhado: nunca disse onde morava.<br />

Desconfiávamos que o teto dele era um dos barracos perto do igarapé de Manaus;<br />

um dia se meteu por ali e sumiu. Raro sair com a gente para um arrasta-pé. Ele<br />

recusava: Com esses sapatos velhos, não dá, mano. Um cineminha, sim: duas<br />

moedas de cada um, e pagávamos o ingresso do Tarso. E lá íamos ao Éden,<br />

Guarany ou Polytheama. Depois da matinê, ele escapulia, não ficava para ver as<br />

meninas da Escola Normal, nem as endiabradas do Santa Dorothea. Tarso queria<br />

vender picolés e frutas na rua, queria ganhar um dinheirinho só para entrar no<br />

Varandas da Eva. Mas era caro, não ia dar. Então tio Ranulfo prometeu: Quando<br />

chegar a hora, pago pra todos vocês. (HATOUM, 2009, p. 8-9).<br />

No caso de Tarzo, “Minotauro puxou-o pela camisa, enganchou a mão no pescoço dele [...]: Bora lá,<br />

seu leso. [...]” ou no trecho “Tarso, um desmancha-prazer. [...] Minotauro soltou um grunhido, resmungou:<br />

Não disse? Roupinha nova é mimo pra mocinha.” (HATOUM, 2009, p.9-10), era ridicularizado, cobrado a<br />

agir como um homem, naquela conjuntura machista., que o obriga a voltar a ter a identidade de homem, isso<br />

porque quando a identidade perde as âncoras sociais que a faziam parecer algo natural, predeterminada e<br />

inegociável, a identificação social se torna cada vez mais importante para “os indivíduos que buscam<br />

desesperadamente um “nós” a que possam pedir acesso.” (BAUMAN, 2005, p. 30), ou seja, é preciso trazer o<br />

sujeito a naturalidade das coisas, a sua categoria social em que a sociedade androcêntrica já havia préestabelecida.<br />

2. Incorporaneizado às categorias sociais<br />

Ser livre em relação aos prazeres é não estar a seu serviço, é não ser seu escravo.<br />

(FOUCAULT, 1999, p.74).<br />

A constituição da sexualidade enquanto propulsora da formação da sexualidade masculina, fez a<br />

sociedade perder o senso da cosmologia sexualizada, que se enraíza em uma topologia sexual do corpo<br />

socializado, de seus “movimentos e seus deslocamentos, imediatamente revestidos de significação social [...]<br />

associado ao masculino” (BOURDIEU, 2002, p. 16), ou a posição superior do homem no ato sexual, em que<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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