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Anais DCIMA Final-1

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Página 36<br />

um amor celeste. Ambos se diferem, na teoria platônica, pela prática de quem faz uso dos mesmos, enquanto<br />

o amor vulgar é realizado por homens inferiores que fazem uso da carne e da posse física, o amor celeste é o<br />

amor ao espírito do próximo, que consequentemente nos endereça à virtude.<br />

A narrativa prossegue e muitos outros conceitos são debatidos, mas para nós podermos entender os<br />

conceitos por detrás do poema analisado, a existência destas duas vertentes de amor bastam.<br />

Em concordância com Platão, o amor seria a busca da beleza, que apesar de ser principiado com uma<br />

realidade carnal, oriunda do mundo sensível, não necessita permanecer em tal estágio, pois este amor não é<br />

homólogo ao verdadeiro sentido de amar. Assim, quem ama, deve atingir a forma absoluta, não se mantendo<br />

enclausurado a matéria. A busca pelo amor completo, puro e perfeito, também chamado por Platão de amor<br />

celestial, deveria optar por não manter esse contato físico, visto que esse é um amor imperfeito, um amor<br />

vulgar, que não passa de uma proeminência do amor genuíno.<br />

2. A reinterpretação do platonismo pelo cristianismo<br />

Durante a Idade Média, muitos filósofos cristãos se apropriaram de conceitos da filosofia antiga de<br />

Platão, havendo uma cristianização do platonismo. Filósofos, como Santo Agostinho, perceberam que se a<br />

teoria de Platão fosse reinterpretada sob a ótica cristã, seria possível encontrar uma perfeita expressão do amor<br />

celeste, tido como alvo na doutrina do cristianismo. Isso pode ser comprovado a partir do pronunciamento de<br />

Daniel de Morley citado por Le Goff (1995, p. 29 apud Rodrigues):<br />

Que ninguém se aflija se, tratando da criação do mundo eu invocar o testemunho<br />

não dos Padres da Igreja, mas de filósofos pagãos, pois, ainda que estes não<br />

figurem entre os fieis, algumas de suas palavras, a partir do momento que<br />

estejam cheias de fé, devem ser incorporadas ao nosso ensino.<br />

A “reconceptualização” das concepções platônicas fez o mundo das ideias ser associado ao paraíso<br />

cristão e a beleza absoluta, aquela que habita no plano superior, como sendo Deus, a força maior que rege o<br />

universo. A beleza absoluta, ou universal, a que todos buscam, seria Deus. Para se achegar a esse ser supremo,<br />

os homens deveriam partir do plano onde estão, ou seja, do mundo sensível, mas não deviam proceder como<br />

os homens que se prendem aos amores do plano concreto. Para alcançar o paraíso seria necessário que os<br />

homens buscassem atingir um amor sublime que não se encontra no corpo, no entanto, na alma.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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