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Anais DCIMA Final-1

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Página 531<br />

Contamos as cédulas: dava e sobrava, era a nossa fortuna. Compramos na Casa<br />

Colombo um par de sapatos, e tia Mira costurou uma calça e uma camisa, tudo<br />

para o Tarso. (HATOUM, 2009, p.9).<br />

Tão pouco importa, quem seria ou que tipos de sentimentos o protagonista do conto poderia ou não<br />

sentir pela mulher- corpo (grifo nosso), a qual iria ser o passaporte para seu domínio sexual, já que o que<br />

valeria ressaltar seria a virilidade, em seu aspecto ético, enquanto, princípio da conservação e do aumento da<br />

honra, em se manter indissociável, pelo menos tacitamente, da virilidade física, através, sobretudo, das provas<br />

de potência sexual “— defloração da noiva, progenitura masculina abundante etc. — que são esperadas de um<br />

homem que seja realmente um homem.” (BOURDIEU, 2002, p. 20).<br />

Isso se deve ao fato das mulheres, na sociedade machista, representam os interesses da família e da<br />

vida sexual. E a vida social, pessoal e a do trabalho nessa civilização tornou-se cada vez mais um assunto<br />

masculino, confrontando os homens com tarefas cada vez mais difíceis e compelindo-os a executarem<br />

sublimações instintivas de que as mulheres são pouco capazes. Dessa maneira, “a mulher se vê relegada a<br />

segundo plano pelas solicitações da cultura que adota uma atitude hostil para ela.” (FREUD, 2016, p. 49). E,<br />

nesse momento, o que interessa para esse universo moldado por um discurso de poder centralizado no corpo e<br />

na sexualidade como elementos simbólicos de representatividade masculina é o quanto eles, enquanto<br />

componentes podem contribuir para formação identitárias que podem ser caracterizadas como<br />

masculinizados:<br />

As “identidades” [que] flutuam no ar, algumas de nossa própria escolha, mas<br />

outras infladas e lançadas pelas pessoas em nossa volta, e é preciso estar em<br />

alerta constante para defender as primeiras em relação às últimas. Há uma ampla<br />

probabilidade de desentendimento, e o resultado da negociação permanece<br />

eternamente pendente. (BAUMAN, 2005, p. 19).<br />

Isso perpassa no conto fluidamente, o narrador e seus amigos necessitam comprovar seus laços<br />

Suas façanhas sexuais ou corporizadas:<br />

Minotauro, fortaço e afoito, quis ir antes. Foi barrado no portão alto, cuspiu na<br />

terra, deu meia-volta, quase marchando para trás. Era um destemido, o corpo<br />

grandalhão, e um jeito de encarar os outros com olho quente, de meter medo e<br />

intimidar. Mas a voz ainda hesitava: era aguda e grossa, de periquito rouco, e o<br />

rosto de moleque, assombrado, meio leso. (HATOUM, 2009, p. 8).<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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