30.10.2017 Views

Anais DCIMA Final-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

Página 265<br />

Figura 2 31<br />

Sob o mote “é pelo corpo que se reconhece a verdadeira negra” e “esta preta foi de boa para melhor”,<br />

as marcas de cerveja pretas “Devassa” e “Laurentina” atrelam-se ao estereótipo da negra sensual, não mais<br />

como aquilo que dá nome a uma bebida, mas às imagens pré-dicursivas construídas sobre a mulata.<br />

O corpo devasso negro, não é mais da bebida de gosto diferenciado e textura aveludada, que<br />

preencheria de maneira mais densa o paladar, tendenciosamente masculino, mas é o da negra sensual que no<br />

imaginário coletivo, entorpece e escraviza com a mesma intensidade, convergem e ganham sentido na<br />

construção do ethos dito, consolidado através da voz institucional que a apresenta como mercadoria (a cerveja<br />

ou a mulata?). É o ethos mostrado, que demarca as características da mulher objeto, disponível para ser<br />

degustada.<br />

Com efeito, tomar a palavra significa, em graus variados assumir um risco; a<br />

cenografia não é simplesmente um quadro, um cenário, como se o discurso<br />

aparecesse inesperadamente no interior de um espaço já construído e<br />

independente dele: é a enunciação que, ao se desenvolver, esforça-se para<br />

constituir seu próprio dispositivo de fala (MAINGUENEAU, 2001, p.87).<br />

A alusiva relação sexista, machista e racista objetifica, diminui e orienta a criação simbólica da<br />

identidade da mulher negra (ethos mostrado), que saiu do espaço das senzalas e foi para a literatura sob o<br />

mesmo estereótipo: “boa de cama e de fogão”.<br />

O depreciativo modo de enunciar a mulher negra, ainda é percebido em diversas campanhas<br />

publicitárias, obedecendo às mesmas restrições de sentidos, os quais passam a reger o lugar de onde fala esta<br />

mulher, embora, cronologicamente, sua identidade ainda esteja aprisionada a uma perspectiva colonialista e<br />

objetificadora do corpo da negra.<br />

31<br />

Disponível em http://www.diariodocentrodomundo.com.br/o-verdadeiro-crime-da-propaganda-racista-da-cerveja-d<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!