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Anais DCIMA Final-1

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Página 413<br />

Consideramos pertinentes as palavras do analista do discurso, professor da Universidade Federal do<br />

Pará (UFPA), Manuel Sena Dutra em sua obra A natureza da TV:<br />

6. Considerações finais<br />

Nos produtos da mídia televisiva que têm a Amazônia como objeto de<br />

reportagens, documentários, especiais e clips, as reiterações discursivas<br />

produzem o sentido de uma Amazônia como sendo um lugar estabilizado no<br />

tempo, vazio humano, pleno de recurso em meio aos quais índios e demais<br />

“povos da floresta” permanecem tanto invisibilizados quanto tidos como ineptos<br />

para dar racionalidade econômica aos recursos naturais. A mídia imprime, dessa<br />

forma, um caráter de imanência a determinados enunciados historicamente<br />

fabricados. Por isso, aqueles “povos” são midiatizados como diferentes, exóticos<br />

e só em virtude desses pré-construídos tornam-se frequentes nas pautas da mídia.<br />

O exotismo decorre do fato de falarem uma linguagem diferente daquela dos<br />

produtores midiáticos e por serem percebidos, no discurso hegemônico, como<br />

grupos humanos congelados no tempo, espécies de seres estranhos ao<br />

contemporâneo. Os textos da mídia, emitidos em rede nacional de circuito<br />

aberto, revelam a visão que o pensamento hegemônico brasileiro mantém da<br />

Amazônia: permanente, redescoberta, espanto, distanciamento, encanto e<br />

estranhamento; uma região exótica, social e culturalmente não incorporada ao<br />

todo nacional (DUTRA, 2005, p. 27-28).<br />

A representação da Amazônia na mídia brasileira segue o mesmo padrão de estereotipias significadas<br />

desde o descobrimento do país, até os dias atuais. Todavia, este espaço passou - e está passando - por diversas<br />

modificações, transformando-se num espaço urbano e desenvolvido, ainda que, muitas vezes, a grande mídia<br />

não o reconhece como tal, insistindo em uma rede discursiva materializada por estereótipos e falsas<br />

representações. Em concorrência a essa prática discursiva, as redes sociais nos sugerem que a sociedade<br />

amazônida já não mais se identifica com a representação fixada pela mídia e sua produção de sentido.<br />

Referências<br />

BAUMAN, Zygmunt. Identidade. Entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.<br />

BHABHA, Homi. O local da cultura. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2005.<br />

DUTRA, Manuel. A natureza da TV. Uma leitura dos discursos da mídia sobre a Amazônia, biodiversidade,<br />

povos da floresta... Belém: NAEA, 2005.<br />

FOUCAULT, M. A Arqueologia do Saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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