Anais DCIMA Final-1

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fantásticos baseados nessa vertente ficcional. A análise desse estudo terá como aporte teórico: Tzvetan
Todorov e H. P. Lovecraft.
1. “Os olhos que comiam carne” de Humberto de Campos.
O conto “Os olhos que comiam carne”, do maranhense Humberto de Campos, já remonta a partir do
título a presença do sobrenatural no decorrer da narrativa.
A figura central é o escritor Paulo Fernando, de quarenta anos, que perdeu a visão por conta de uma
doença degenerativa que há muito tempo foi prognosticada pelos médicos, e após essa tragédia, ele descobre
– por um acaso ou não - um famoso oftalmologista, chamado Platen, que havia descoberto um processo capaz
de restituir a visão aos cegos. É nesse momento que se percebe um dos primeiros momentos de hesitação no
conto, na descrição do processo cirúrgico, podendo causar a primeira indagação ao leitor: esse processo se
dava pela habilidade científica ou por meio sobrenatural?
Como narra o conto (CAMPOS, Humberto de., 1954, P.46) o processo era feito dessa forma:
O processo Plateu era constituído por uma aplicação da lei de Roentgen, de que
resultou o Raio-X, e que punha em contacto, por meio de delicadíssimos fios de
“hêmera”, liga metálica recentemente descoberta, o nervo seccionado.
Completava-o uma espécie de parafina adaptada ao globo ocular, a qual, posta
em contacto direto com a luz, restabelecida integralmente a função desse órgão.
Cientificamente, era mais um mistério do que um fato. (CAMPOS, Humberto
de., 1954, P.46)
Percebe-se então que o processo era explicado mais como um mistério do que uma ciência, e é neste
ponto que o leitor pode adquirir um sentimento de hesitação, pois se depara frente a acontecimentos
sobrenaturais, que ao ser um processo cirúrgico, subtende-se que como produto da ciência, não apresenta
características do sobrenatural ou do misterioso.
O escritor propõe-se a fazer o procedimento, para que recuperasse a visão. A cirurgia é descrita com
bastante drama e tensão, como pode-se perceber a seguir (CAMPOS, Humberto de., 1954, p.46):
Paulo Fernando não apresentava, na fisionomia, o menor sinal de emoção. O
rosto escanhoado, o cabelo grisalho e ondulado posto para trás, e os olhos
abertos, olhando sem ver: olhos castanhos, ligeiramente saídos, pelo hábito de
vir beber a sabedoria aqui fora, e com laivos escuros de sangue, como
reminiscência das noites de vigília. Vestia pijama de tricoline branca, de gola
caída. As mãos de dedos magros e curtos seguravam as duas bordas da cadeira,
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