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Anais DCIMA Final-1

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Página 307<br />

e assumir impulsos inerentes ao corpo, mas nem sempre percebidos ou, às vezes, mesmo negados. Aqueles<br />

impulsos entranhados no ser que devem nortear comportamentos e posturas decisivos para ocupação de um<br />

lugar, aqui, o lugar do corpo artístico, do corpo exposto! Bernard Andrieu, em A emersão do corpo vivo através<br />

da consciência: uma ecologização do corpo, afirma que<br />

O corpo vivo age em pessoa e não como uma pessoa, sem intermediário, menos<br />

por uma reflexividade consciente que por um despertar e uma ativação (...) a<br />

intensidade é tão forte que ela transborda os quadros estesiológicos habituais,<br />

emergindo na consciência do corpo vivido (ANDRIEU, 2014, p.5).<br />

Ou seja, o corpo é, está em, impõe-se, porque os sentidos, as sensações estão nele, mesmo antes da<br />

tomada de consciência corporal, já que “Meu corpo goza e sofre, antes mesmo de mim e sem mim.”<br />

(ANDRIEU, 2014, p.5). Ao concordar com tal estado do corpo imerso em percepções profundas, referimos<br />

outro autor fundamental quando se fala em corpo, Michel Foucault que, em Vigiar e punir demonstrou o quanto<br />

e como as instituições sociais podem ser decisivas na domesticação do corpo, no sentido de torná-lo dócil,<br />

passivo, sujeitado. Mas, felizmente, para além de rígidas disciplinas, “o corpo negado, escondido, exposto, nu<br />

ou seminu – não importa em que tendência estética, religiosa ou política ele seja enfocado – continua na cena,<br />

no palco, na tela, nos outdoors, no imaginário saudável ou distorcido de todos os povos” (MARTINS, 2009).<br />

Acima de tudo, o corpo, mesmo reprimido, clama, reclama, não adianta fazer ouvidos moucos, suas entranhas<br />

palpitam, vem à tona. Pois, “Haverá na experiência corporal uma verdade que não mente. O corpo não mentiria.<br />

(...) O corpo vivo se encontra em ato” (BERTHOZ; ANDRIEU, 2011, p. 6).<br />

E diríamos que é esse encontro em ato uma das razões do encanto, satisfação, prazer e necessidade de<br />

trabalhar com preparo físico-emocional no corpo do artista. Em artigo de autoria de Bene Martins, O Corpo<br />

tem alguém como recheio, foi mencionado algo que parafraseamos para este texto, sobre sensações que se tem<br />

ao assistir, sentir, vivenciar um belo espetáculo artístico, seja ele dança, teatro, circo, música etc.<br />

A sensação de encantamento é mais ou menos a mesma ao assistir a um<br />

espetáculo de dança, independente da natureza ou do estilo, desde que apresente<br />

uma coreografia que prenda os olhares de quem o vê e o compreende. Aliás, uma<br />

das características mais atraentes da dança (acrescentamos: do trabalho com o<br />

corpo) é que ela não visa retorno material, apenas, ela não é um objeto ou produto<br />

de consumo, ela atende a outros interesses e objetivos, quais sejam: os da<br />

formação de um sujeito total, por assim dizer; o despertar de um sujeito que<br />

aprenda a liberar e a lidar com a energia, com o vigor físico e a disciplina do<br />

próprio corpo. Disciplina, no sentido de exercitá-lo para diversas construções<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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