Anais DCIMA Final-1

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(matéria) em mãos, atribuindo a ela qualquer formato (forma), só que independentemente do formato, ela
sempre vai continuar sendo uma massinha de modelar.
Ao voltar para o soneto, Camões diz que “como o acidente em seu sujeito, assim co’a alma minha se
conforma” (versos 10 – 11), isto é, a substância, o amador, não tem sua essência mudada, ele não muda quem
ele é, apenas sofre um acréscimo em si das virtudes e qualidades da dama por meio da congeminação e do
amor, o que o conforma e satisfaz.
O último verso requer conceitos retidos dos estudos de Platão, “está no pensamento como ideia” (verso
12), o termo ideia remete ao mundo das ideias, que por sua vez, lembra a perfeição, daí pensar que Camões
dizia que a ideia da congeminação era perfeita, do amor pleno e completo.
Por fim, para a análise dos dois últimos versos, se faz necessário voltar aos conceitos de Aristóteles
supracitados. Nos versos encontra-se “[e] o vivo e puro amor de que sou feito, como matéria simples busca a
forma.”, o amor no poeta se assemelha ao conceito de substância, ao pensar que esta é feita de matéria e forma,
pois uma não existe sem a outra, já que a junção de ambas forma algo maior, a substância, dessa maneira, a
matéria obrigatoriamente implica uma forma. A matéria é a matéria-prima, o que já existia antes do processo
de modelagem ser iniciado, portanto, o eu-lírico é a matéria que busca ser transformada em forma, a amada,
por meio do amor; A matéria não existe sem a forma, assim, o Amador, não existe sem a Amada, que no ponto
onde se está, já formam um único organismo, consequência de todo o processo de transforma-se o amador na
cousa amada.
4. Considerações finais
Este artigo, como objetivo geral, trata-se de uma tentativa de pontuar as influências de Camões em seu
soneto Transforma-se o amador na cousa amada, baseando-se em uma pesquisa minuciosa a respeito do
possível aporte teórico que rege o poema, com o intuito de visar uma melhor compreensão das palavras
proferidas por Camões, que travestiu-se de um sujeito-lírico com convicções neoplatônicas de amor.
Obviamente, não se trata de uma cartada final, cada indivíduo, se dispuser das bases teóricas adequadas, poderá
vir a ter novas interpretações, contudo, este estudo, dedica-se a explanar um ponto de vista advindo das ideias
de Platão e como elas influenciaram a escrita de Luís de Camões neste poema.
Também é válido ressaltar que não há um intuito de encontrar neste soneto uma “tradução” perfeita
deste conceito filosófico, do neoplatonismo amoroso, afinal, como ressalta Cunha (1965, p. 124), as obras do
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