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Anais DCIMA Final-1

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Página 769<br />

“Não basta que os museus sejam gratuitos e as escolas se proponham transmitir<br />

a cada nova geração a cultura herdada. Só terá acesso a este capital artístico ou<br />

científico quem contar com os meios, econômicos e simbólicos, para dele se<br />

apropriar. Compreender texto de filosofia, desfrutar uma sinfonia de Beethoven<br />

ou um quadro de Bacon, tudo isso requer possuir códigos, o treinamento<br />

intelectual e sensível necessário para decifrá-los.”<br />

As classes sociais não se distinguem somente por sua posição econômica, mas também por acessos a<br />

privilégios. Ouvintes e surdos, seres iguais, mas diferentes. Os ouvintes buscam justificar seus privilégios por<br />

ter posse de algo mais, a audição. O surdo acha-se em uma posição desfavorecida, a ausência de audição.<br />

Segundo Garcia Canclini (2007, p.81): “Cria a ilusão de que as desigualdades não se devem àquilo que se tem,<br />

mas àquilo que se é.” O sujeito surdo, privado de audição, é deslocado para um sistema conceitual de<br />

diferenciação, de desigualdade que o remete ao distanciamento de classes. A sociedade ouvinte apresenta o<br />

motivo da diferenciação social fora do cotidiano, no simbólico e não no econômico. Por isso, tem-se a<br />

impressão de que a cultura, a arte e a capacidade de desfrutá-las surgem como “dons” ou virtudes naturais, e,<br />

não como resultado de tratamentos desiguais, de olhares diferenciados sobre a surdez, de visão estereotipada<br />

sobre o ser surdo devido à divisão histórica entre classes. Eles, os surdos, vivenciam lutas em defesa da sua<br />

língua (LIBRAS), de sua cultura e de sua(s) identidade(s). Defendem a tese de serem vistos como diferentes<br />

e, não como deficientes; por mais desiguais, eles querem ser vistos como participantes desta sociedade<br />

hegemônica dita ouvinte. Embora, a unificação globalizada dos mercados tenha enfraquecido os termos<br />

“diferentes” e “desiguais”, em substituição de outros como “incluídos” e “excluídos”; nota-se que a sociedade<br />

concebe estes termos como metáfora. Segundo GARCIA CANCLINI (2007, p.93): “os incluídos são os que<br />

estão conectados; os outros são os excluídos, os que vêem rompidos seus vínculos ao ficar sem trabalho, sem<br />

casa, sem conexão.” Na condição de Surdo, este sujeito é marginalizado e, consequentemente desconectado.<br />

No mundo de “conexões” a condição de explorado, que antes se definia somente no campo do trabalho,<br />

dilui-se e assume outro formato, hoje o globo está dividido entre “os que têm domicílio fixo, documento de<br />

identidade, cartão de crédito, acesso à informação e dinheiro e, por outro lado, os que carecem de tais<br />

conexões” (GARCIA CANCLINI, 2007, p.92). As narrativas surdas ocupam-se em apresentar os surdos no<br />

seu lugar de pertencimento e, não como habitantes de Babel ou habitantes da periferia, esquecidos e<br />

marginalizados. Esquecidos quando são tratados como deficientes; marginalizados quando se impõe a eles que<br />

frequentem escolas especiais. Nos discursos hegemônicos não são lembrados como sujeitos dotados de<br />

inteligência e de capacidade cognitiva. Eles são vistos, pela sociedade ouvinte, como limitados e merecem uma<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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