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Anais DCIMA Final-1

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Página 692<br />

[...]o estacionamento da sociedade que ali se agita no afogado das espessuras,<br />

esterilmente – sem destino, sem tradições e sem esperanças – num avançar<br />

ilusório em que volve monotonamente ao ponto de partida, como as ‘estradas’<br />

tristonhas dos seringais... (CUNHA, 2000, p.336)<br />

Outro ponto de associação entre o seringueiro e Gillliatt, poderia ser destacado. Embora tenha saído<br />

vitorioso da batalha com o gigantesco polvo, o jovem ao deparar-se com a perda do amor da bela Deruchette,<br />

toma uma atitude de dar cabo à própria vida, ao sentar-se na Cadeira Gild-Holm-Ur, para ver a passagem do<br />

navio Cashmere, que levava sua amada, fica imóvel, inerte, enquanto o nível do mar subia, até sua morte:<br />

A água chegava-lhe à cintura. A maré levantava-se. O tempo corria[...] Ao<br />

mesmo tempo em que a água infinita subia à roda do rochedo Gild-Holm-Ur, ia<br />

subindo a imensa tranquilidade da sombra nos olhos profundos de Gillliatt[...] A<br />

pouco e pouco, aquela mancha, que já não era uma forma foi empalidecendo.<br />

Depois diminuiu. Depois dissipou-se. No momento em que o navio dissipava-se<br />

no horizonte, a cabeça desaparecia debaixo da água. Tudo acabou; só restava o<br />

mar. (HUGO, 1982, p.414-415)<br />

Nessa perspectiva, o seringueiro, pois também na inevitabilidade de volta à sua terra natal,<br />

estoicamente, vê-se afogado pelas estradas, pelas folhagens da floresta, já a muito sem esperanças. Não menos<br />

que a escrita euclidiana, o escritor Sérgio D.T Macedo (1962, p.64), descreve:<br />

5. Algumas considerações<br />

O seringueiro leva uma existência dura e difícil. Não são poucos os perigos que<br />

ele enfrenta no seu caminhar pelas ‘estradas’, pelas picadas, em busca das<br />

árvores. Frequentemente, numa curva é surpreendido pela onça bravia. Outras<br />

vezes, caminhando pelas proximidades de um rio encontra-se, de repente, com a<br />

terrível sucuri ou sucuriju, que é a maior cobra da região.<br />

O registro e representações da Amazônia e de seus personagens mostra-se como um campo vastíssimo<br />

de inspiração para aqueles que se debruçam sobre esse espaço singular. Vista de diferentes ângulos, a mata<br />

apresenta-se ambígua, passando ora por espaço mitológico, fantástico, ora funesto, constritor, angustiante, a<br />

cabo da imersão de diferentes sujeitos a ela nativos ou estrangeiros. Os textos amazônicos de Euclides da<br />

Cunha, em especial o aqui debatido “Entre o seringais”, revela um outro olhar para a paisagem amazônica em<br />

seu registro dramático do seringueiro.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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