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Anais DCIMA Final-1

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Página 225<br />

Em meados do século XV, início do processo de colonização, a política colonial instituída pelo<br />

europeu no território brasileiro necessitava de formas de domínio da diversidade cultural dos povos que aqui<br />

habitavam, com o objetivo de sistematizar um controle produtivo em direção a esses corpos. Esta tarefa,<br />

contudo, constituía-se em um árduo trabalho, pois o território nacional poderia ser entendido nas palavras de<br />

Elizabeth Pratt, como uma imensa “zona de contato”, ou seja, “espaços sociais onde culturas díspares se<br />

encontram, se chocam, se entrelaçam uma com a outra” (PRATT, 1999, p. 27).<br />

Ao realizar um recorte geográfico com o objetivo de visualizar a vastidão cultural da época, observo<br />

a realidade linguística da região norte brasileira, “um ambiente com relativa unidade geográfica, mas com<br />

grande diversidade cultural, no qual se desenvolveram várias centenas de línguas, pertencentes a diferentes<br />

troncos linguísticos” (FREIRE, 2004, p. 247).<br />

A história dita como oficial, narrada pelos livros de História Brasileira, não aborda questões referentes<br />

a riqueza linguística do período de colonização, o que pode produzir nos leitores, professores e alunos, a ideia<br />

de que a língua portuguesa foi a forma de comunicação utilizada entre os povos indígenas que aqui habitavam<br />

e os colonizadores.<br />

Com o objetivo de viabilizar o empreendimento colonial, neste período da história nacional o país foi<br />

dividido em dois grandes estados: o Brasil e o Grão-Pará. Cada um com sua respectiva língua geral.<br />

Tomando a realidade amazônica daquele período, pesquisas atuais nesta área nos apresentam que a<br />

língua utilizada até mesmo nas primeiras décadas do século XIX, foi, incontestavelmente, a Língua Geral<br />

Amazônica (LGA) de comunicação interna da Amazônia, ao longo de todo o período colonial. Sobre esta<br />

realidade nos informa o professo José Ribamar Bessa Freire (2003):<br />

A Amazônia - onde milhares de cidadãos, indígenas e não-indígenas, apesar de<br />

desconhecerem a língua portuguesa, estavam sintonizados com a vida<br />

econômica, social e política do país e identificados com os valores nacionais, de<br />

tal forma que produziam riquezas, pagavam impostos e – na expressão de Couto<br />

de Magalhães – não hesitavam em ‘derramar seu sangue pela pátria’, como<br />

aconteceu na Guerra do Paraguai. Mas o fato de não falarem a língua nacional e,<br />

ao contrário, de serem usuários de uma língua indígena, produziu e continua<br />

produzindo uma reação de estranhamento. É que esta situação singular<br />

contrariava uma suposta unidade linguística, mas sobretudo, evidenciava até que<br />

ponto tinha se expandido uma língua indígena, denominada, ao longo da história,<br />

de Língua Geral, Nheengatu e Tupi, entre outras nomenclaturas.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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