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Anais DCIMA Final-1

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Página 56<br />

classes e, por fim, a concepção de que o discurso é produzido com base em condições de produção<br />

determinadas.<br />

Por sua vez, na terceira época de estudos pecheutianos, a inserção do conceito de memória discursiva,<br />

que seria substancial para analisar como um preceito é esquecido/reformulado consoante os emblemas dos<br />

acontecimentos históricos, e a afirmação de que o interdiscurso constituiria as formações discursivas, nas quais<br />

coexistem vozes que se confrontam e dialogam, foram acepções que trouxeram um novo vigor à AD e à sua<br />

arquitetura pregressa.<br />

A explanação desses marcos teóricos em Pêcheux, além de sua relevância para o estudo de práticas<br />

textuais em diferentes âmbitos, é crucial na análise aqui proposta, uma vez que esta parte do discurso literário<br />

enquanto um lugar do simbólico e concebe-o como uma forma de agir inscrita em um contexto sócio-histórico<br />

que rememora práticas e faz aparecer, ainda que, às vezes, esmaecida e opaca, a memória discursiva.<br />

Esse agir é possibilitado pelas condições de produção, as quais não correspondem “à realidade física”<br />

da elaboração de uma manifestação discursiva, mas sim, “um objeto imaginário” (PÊCHEUX, 1997, p.81)<br />

esboçado por meio dos sujeitos e da ideologia que os interpela e faz o dizer produzir sentidos em diferentes<br />

esferas, por vezes, bem distintas do contexto imediato de produção.<br />

Sendo assim, essa forma de conceber o discurso literário relaciona-se ao pressuposto de que o discurso<br />

“é sempre pronunciado a partir de condições de produção dadas” e que “é impossível analisar um discurso<br />

como um texto, isto é, como uma sequência linguística fechada sobre si mesma” (PÊCHEUX, 1997, p.77, 79,<br />

grifos do autor). E, em se tratando do texto ficcional, é possível percebermos uma rede dialógica em sua<br />

tessitura, a qual é elaborada por meio de um retorno/atualização de problemáticas de tono social que reclama<br />

sentidos já que irrompe das redes de memória, vindo a lume como um novo acontecimento discursivo. Dessa<br />

forma:<br />

[...] tal discurso remete a tal outro, frente ao qual é uma resposta direta ou<br />

indireta, ou do qual ele “orquestra” os termos principais ou anula os argumentos.<br />

Em outros termos, o processo discursivo não tem, de direito, início: o discurso<br />

se conjuga sempre sobre um discurso prévio, ao qual ele atribui o papel de<br />

matéria-prima, e o orador sabe que quando evoca tal acontecimento, que já foi<br />

objeto de discurso, ressuscita no espírito dos ouvintes o discurso no qual este<br />

acontecimento era legado, com as “deformações” que a situação presente<br />

introduz e da qual pode tirar partido. (PÊCHEUX, 1997, p.77, grifos do autor).<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

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