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Anais DCIMA Final-1

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Página 717<br />

a respeito das lembranças dos acontecimentos na época. Carlito tinha a idade de nove anos; afirmou que<br />

naquele dia a família estava reunida em casa após o almoço, no momento em que foram surpreendidos pelos<br />

pistoleiros:<br />

Eu ainda recordo como se fosse acontecido ontem. Quando os tiros começaram,<br />

nós entramos pra debaixo da cama e ficamos lá embaixo. Aí foi quando eles<br />

atiraram no meu pai. No outro primo que correu por trás da casa, eles atiraram<br />

nas costas dele, ele caiu na beira do poço, quase cai dentro do poço. O mais novo<br />

era o Ronaldo, tinha uma ano, nem andava direito ainda e a gente presenciando<br />

tudo lá debaixo da cama (...) quando eles saíram, nós saímos e encontrei o pai,<br />

ainda tava vivo ainda (...) (UBÁ, 2006).<br />

Carlito lembra que o irmão mais novo, Ronaldo, de apenas um ano, estava em cima do corpo caído do<br />

pai; diante da cena, chorou e apanhou o irmão no colo; ainda certo de que a mãe também havia sido assassinada,<br />

saiu em busca da mesma. Para sua surpresa e alívio, dona Marina estava viva. A esposa de Zé Pretinho,<br />

entretanto, perdera nos próximos dias o bebê com idade gestacional de oito meses. A partir daí, dona Marina<br />

passou a preocupar-se com o trabalho na roça e Carlito passou a cuidar dos irmãos menores e assumir a rotina<br />

doméstica da casa. Sobre isso, dona Marina relatou:<br />

Minha vida ficou um pouco complicada. Eu passei um ano que eu pensei que<br />

não iria me controlar. Uma que eu não tinha o costume de serviço. Meu serviço<br />

era só em casa né. Eu tinha tudo dentro de casa. Ele não deixava faltar nada pra<br />

nós. Ele foi um bom pai (UBÁ, 2006).<br />

Os familiares de Januário Ferreira Lima, Luís Carlos Pereira de Souza e Nélson Ribeiro nunca foram<br />

localizados, assim como não houve a inclusão das famílias dos mesmos nos processos de indenizações de<br />

reparo a violência cometida pelo Estado Brasileiro.<br />

Bastos (2013), ao analisar a conduta do Estado brasileiro e paraense perante as violações aos direitos<br />

humanos no campo, reflete que a condenação dos réus e subsequentemente as punições, constituem parte da<br />

reparação da violação. Os assassinatos foram cometidos pelos pistoleiros Waldir Pereira de Araújo, Raimundo<br />

Nonato de Souza e Sebastião da Teresona, morto no interior do presídio de São José em Belém. Bastos<br />

questiona a efetividade desta medida jurídica, visto que Waldir e Raimundo foram julgados no ano de 2011, a<br />

revelia, em São João do Araguaia e condenados a 199 anos de prisão e estão foragidos; o julgamento do<br />

mandante dos crimes José Edmundo Ortiz Virgulino, de 69 anos ocorreu no dia 12 de dezembro de 2006; foi<br />

condenado a 152 anos de prisão; cumpre em prisão domiciliar.<br />

Universidade Federal do Maranhão – Cidade Universitária Dom Delgado<br />

Avenida dos Portugueses, 1.966 - São Luís - MA - CEP: 65080-805

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